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A aposta Ehrlich versus Simon: população e preço das commodities, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] Julian Simon e Paul Ehrlich fizeram uma aposta, em 1980, que ficou famosa. Juliam Simon defendia a idéia de que os avanços tecnológicos são capazes de superar os limites da Terra criando meios para sustentar uma população crescente. Paul Ehrlich – que escreveu o livro “A bomba Populacional”, em 1968 – sustentava que o crescimento populacional iria pressionar os recursos naturais e que os avanços tecnológicos seriam incapazes de contrabalançar as leis dos rendimentos decrescentes. Como resultado o aumento dos preços dos alimentos e das matérias primas seria inevitável.

Desta forma, o lepidopterista Paul Ehrlich (na linha do pensamento de Thomas Malthus), em uma visão pessimista, defendia a idéia de que a falta de disponibilidade de alimentos causaria a morte de milhões de pessoas nas décadas seguintes e o preço das commodities iria aumentar. Já o economista Julian Simon (na linha de Esther Boserup), em uma visão otimista, defendia a idéia de que as taxas de mortalidade iriam continuar caindo, o bem-estar iria continuar aumentando e o crescimento populacional não provocaria o aumento do preço dos alimentos, nem a elevação do preço das commodities.

Os dois escolheram consensualmente cinco metais: cobre, cromo, níquel, estanho e tungsténio. Ehrlich apostou que o preço destas commodities aumentaria até 1990. Simon apostou que os preços diminuiriam. Dez anos depois, Ehrlich perdeu a aposta, pois os preços dos minerais (assim como o preço do petróleo e dos alimentos) caíram na década de 1980 e continuaram em nível baixo até o fim da década de 1990.

Acontece que o preço das commodities dependia muito da demanda dos países desenvolvidos que tem uma população estável e que vinha investindo na eficiência energética e produtiva. Isto mudou a partir da virada do milênio, quando os países em desenvolvimento passaram a liderar o crescimento da economia internacional. Particularmente importante tem sido o crescimento econômico da China e da Índia (Chíndia), que são os dois países mais populosos do mundo. O rápido crescimento da Chíndia e do Terceiro Mundo tem aumentado a demanda por produtos básicos e contribuído para a elevação do preço das commodities.

O preço do petróleo teve um grande aumento na primeira década do século XXI e atingiu o pico em 2008, caindo depois da recessão mundial de 2009, mas voltou a aumentar e chegou ao preço de US$ 110 o Barril, em fevereiro de 2011. O índice de preços dos metais multiplicou por 3 entre 1990 e 2010. O preço dos alimentos multiplicou por 2 e atingiu o seu recorde em janeiro de 2011. (Ver Index mundi: http://www.indexmundi.com/commodities/)

Como ficará os preços das commodities nas próximas décadas? Será que, no final das contas, Paul Ehrlich vai vencer Julian Simon? A humanidade vai conseguir criar solucões tecnológicas inovadoras? Ou o aquecimento global e a escassez de água potável vai elevar dramaticamente o preço dos alimentos?

Dois estudos divulgados na revista científica britânica Nature, em fevereiro de 2011, mostram que o aquecimento global provocado por atividades humanas aumentou a intensidade de chuvas, nevascas e, consequentemente, das cheias. Em artigo publicado no New York Times (08/02/2011), Paul Krugman considera que a centelha que incendiou a fúria popular no mundo Árabe foi o aumento do preço dos alimentos, provocado pelas secas e enchentes que são resultados do aquecimento global.

Será que o crescimento da economia dos países emergentes e as mudanças climáticas vão alterar o resultado da aposta entre os otimistas e os pessimistas? Os próximos anos devem apresentar um resposta mais definitiva para esta questão. Façam suas apostas!

José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. As opiniões deste artigo são do autor e não refletem necessariamente aquelas da instituição.
E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 18/03/2011

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