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Pesquisa testa coquetel enzimático na produção de biocombustível

cana

O aumento do aproveitamento da cana-de-açúcar na produção de etanol e a utilização de novas matérias-primas na produção de biocombustíveis são os objetivos de pesquisa no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. Os estudos são voltados principalmente à produção do chamado “coquetel enzimático”, onde fungos têm sido cultivados para a produção de enzimas que, uma vez injetadas em biomassas específicas, tem o objetivo de torná-las mais maleáveis, por intermédio do aumento da eficiência hidrolítica (produção de açúcar).

No processo de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, o caule da planta é cortado e transportado para a usina, onde será esmagado. Aproveita-se o líquido para a produção de açúcar e o resto é queimado. “Quanta energia é deixada no campo nesse processo? Um terço é jogada no campo, um terço é transportada para a usina e o último terço é a queima do bagaço”, aponta o professor Igor Polikarpov, do IFSC, que coordena a pesquisa. “É possível utilizar esse bagaço para a produção de etanol, o que pode vir a suprir a enorme demanda e diminuir as queimadas, tão prejudiciais ao meio-ambiente. Por esse novo processo, pode-se aumentar em pelo menos 150% a produção de etanol”, explica.

Os pesquisadores trabalham no isolamento, caracterização e cristalização das enzimas que compõem o coquetel enzimático, produzidas por fungos cultivados especialmente para uso nos experimentos. “Há empenho nos estudos para otimização dos processos, que buscam resultados mais eficientes e custos baixos”, explica o professor. “Entender o que acontece com a biomassa em cada uma das etapas de produção de etanol é o princípio para dar viabilidade à produção de energia em quaisquer produtos da biomassa. Há coquetéis enzimáticos específicos para cada tipo de biomassa. Queremos entender, em nível molecular, o que acontece em cada uma dessas etapas de produção”.

Matérias-primas
As pesquisas também visam o aproveitamento de biomassa geral, onde se incluem como matérias-primas gramíneas e “partes” de florestas, como galhos e folhas que, segundo o professor, podem ser aproveitados para a produção de energia. “É claro que precisamos conservar as florestas, mas também é preciso pensar uma maneira otimizada de aproveitar aquilo que está jogado na natureza, em princípio, sem utilidade nenhuma. Em florestas de eucalipto, por exemplo, muitos galhos e folhas são cortados e deixados na terra. Uma parte da biomassa deve ser reposta, mas acredito que nem tudo o que é jogado deva ser, simplesmente, descartado”.

A geração de bioetanol — aproveitamento de diferentes tipos de biomassa — ainda é difícil e onerosa. O problema está no fato de compostos de plantas serem muito resistentes. “Para poder polimerizar a glicose, por exemplo, é preciso quebrar suas moléculas para a fermentação e posterior transformação em etanol”, explica Polikarpov. Ele diz que todo processo de aproveitamento de biomassa passa pelo desenvolvimento de tecnologias que, por enquanto, não existem, especialmente em escala industrial.

Os estudos do IFSC contam com a parceria de pesquisadores da União Européia. “Mais de 50 instituições de pesquisas, além de empresas, estão envolvidas, realizando análises conjuntas”, afirma o professor. “Os objetos de pesquisa são distintos, mas a troca de informações é essencial. Essa parceria é algo muito importante, não somente pelo conhecimento que será absorvido, mas também pelo fato de estar inserindo a pesquisa brasileira no mundo”.

O Brasil figura como um dos maiores produtores de etanol no mundo, ao lado dos Estados Unidos. Juntos, são responsáveis pela produção de 75% do consumo mundial do combustível. “Atualmente, o País utiliza apenas 3% de nossas terras aráveis para a produção de etanol. Para atender à demanda mundial, esse número precisaria aumentar 10 vezes, uma quantidade muito grande e inviável, por isso a necessidade de buscar alternativas para a produção de energia limpa”, conclui.

Texto de Tatiana Zanon, da Assessoria de Comunicação do IFSC/Agência USP de Notícias, publicado pelo EcoDebate, 15/03/2011

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