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Notícia

Governo dos EUA reúne comitês para opiniar sobre segurança de salmão transgênico

Comitê de especialistas reunido para aconselhar a agência Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, sobre a segurança do uso de um salmão geneticamente modificado como alimento “parece” ter concluído a favor da liberação, de acordo com Andrew Pollack, repórter do New York Times que acompanhou a discussão em 20 de setembro. É o que o jornalista informa no texto “Panel Leans in Favor of Engineered Salmon” (Conselho tende a aprovar salmão engenheirado), publicada em 20 de setembro.

A decisão final da FDA ainda deve demorar meses, esclarece Pollack. Outro comitê de especialistas reuniu-se no dia 21 para decidir se, caso liberado, o salmão deve ser rotulado como transgênico. Dois argumentos apareceram: o de representantes de consumidores, que querem a rotulagem; e a da empresa AquaBounty, para quem a rotulagem atrapalha as vendas e é desnecessária, pois o salmão transgênico tem as mesmas características físicas, sabor, valor nutricional e segurança do salmão convencional, segundo a companhia que desenvolveu o peixe. Nos EUA, alimentos transgênicos não são comumente rotulados.

O salmão seria seguro como alimento e seguro para o ambiente, na opinião da maior parte dos especialistas, “mas há falhas nos estudos que levam a essas conclusões”, escreveu Pollack. Análise de Guilherme Gorgulho, do Portal Inovação Unicamp.

Que peixão!

Desenvolvido pela empresa de biotecnologia AquaBounty Technologies, de Waltham (Estado de Massachusetts), o salmão do Atlântico transgênico (Salmo salar) recebeu o nome comercial de AquAdvantage Atlantic. O salmão da AcquaBounty fica pronto para o abate duas vezes mais depressa que o salmão do Atlantico e foi desenvolvido para ser criado em cativeiro. Segundo a empresa, a diferença é a inserção, no genoma da variedade convencional, de uma cadeia de dna formada por sequências de nucleotídeos (ATCG) que regulam a produção de uma proteína anticongelamento pelo peixe, vindas do peixe-carneiro-americano (Macrozoarces americanus), e sequências do gene do hormônio de crescimento do salmão-rei (Oncorhynchus tshawytscha); com isso, a produção do hormônio de crescimento não diminui no inverno. Apesar de atingir a maturidade mais cedo, o AquAdvantage Atlantic para de crescer ao atingir o tamanho adulto do salmão do Atlântico encontrado na natureza, explica a reportagem.

De acordo com Pollack, caso seja aprovado, o salmão será “o primeiro animal transgênico a entrar na cadeia alimentar dos norte-americanos” — ou de qualquer outro país do mundo — e pode abrir caminho para a liberação de outros alimentos biotecnológicos de origem animal. O texto cita um porco desenvolvido no Canadá que produz um esterco menos poluente. O repórter destaca declaração do especialista Eric Hallerman, do Virginia Tech, que afirmou ao comitê já existirem 18 variedades de pescados geneticamente modificados para crescer mais depressa em “vários países”.

Barateamento do pescado com produção nacional

O comitê, explica o jornal, também deveria aconselhar a FDA sobre riscos ambientais — o principal deles sendo a possibilidade de o salmão transgênico escapar e reproduzir-se fora do cativeiro —, além do risco para a segurança para quem se alimenta dele.

A proposta da AquaBounty é que o salmão transgênico seja criado em um sistema de piscicultura intensiva em tanques longe da costa dos EUA, tornando a atividade economicamente viável por reduzir os custos para o consumidor em relação ao pescado importado do Chile ou da Noruega — os maiores fornecedores dos norte-americanos —, segundo declarações do presidente da AquaBounty, Ronald Stotish, na reunião de especialistas do dia 20, reproduzidas pelo jornal. Na defesa do AquAdvantage Atlantic, Stotish disse ainda que esse peixe pode ajudar a suprir a “crescente demanda” por produtos alimentícios de origem marítima sem causar novos danos ao ecossistema.

O NYT explica que atualmente a AquaBounty está incubando os ovos em uma unidade da empresa na província canadense de Ilha Príncipe Edward e que os peixes, por enquanto, só poderão ser criados em quantidades limitadas em uma instalação pertencente à empresa no Panamá. Sobre a preocupação com a possível fuga para a natureza, a empresa descarta a hipótese por conta dos diversos mecanismos de contenção presentes nas suas unidades, que, além disso, estão distantes da costa, destaca o jornal nova-iorquino. Outro ponto, alega Stotish, é que todos os peixes produzidos serão fêmeas estéreis, por isso não poderão cruzar entre si nem com salmões convencionais.

Estudos incompletos

Membros do comitê consultivo, e também de grupos de defesa do meio ambiente, dizem que a avaliação da agência do governo americano tem que levar em consideração a possibilidade de que o salmão transgênico seja criado em grandes quantidades e em vários locais diferentes, destaca o texto. “A FDA deve considerar problemas relacionados a situações realistas de produção”, disse Anna Zivian, da organização não governamental Ocean Conservancy, conforme reprodução do NYT.

Pollack conta que os integrantes do painel consultivo não foram convidados a votar a aprovação ou não do salmão AquAdvantage — decisão que cabe à exclusivamente à FDA. Os cientistas, a maioria veterinários, não manifestaram no encontro qualquer dúvida sobre a segurança do produto, afirmou o repórter. No entanto, uma das análises integrantes do documento que embasa o processo de aprovação detectou no salmão transgênico um “possível aumento no potencial para causar reações alérgicas”, informa o NYT. Os especialistas também classificaram o risco de que o peixe escape para o ecossistema como “baixo”.

Número limitado de amostras

O jornal menciona um estudo, citado por membros do comitê, sobre o potencial do salmão da AcquaBounty causar alergia. O teste, diz o texto, “mostrou um possível aumento no potencial”, “quase significativo estatisticamente”, mesmo tendo sido feito com o uso de “apenas” seis peixes em cada grupo de voluntários.

Para vários membros do comitê, escreve Pollack, esses resultados são inconclusivos, pois “não ficou claro que volume de aumento seria significativo”. Na audiência, Kevin Wells, professor-assistente da Universidade do Missouri e um dos membros do painel, duvidou da possibilidade de o novo salmão causar mais alergia que o convencional. “O salmão não contém nada que não esteja na dieta humana”, concluiu, segundo o NYT. De acordo com o documento publicado pela FDA em seu website, o salmão transgênico não apresenta qualquer risco para o consumo humano. “A expressão do hormônio de crescimento do salmão-rei no salmão da ABT [AquaBounty Technologies] não representa um novo risco de reação alérgica para indivíduos alérgicos a salmão, e é improvável que cause reação alérgica cruzada.”

Pollack reporta que integrantes do painel científico disseram que os estudos em que a FDA está se baseando para analisar o caso contêm “imperfeições” por empregar amostras com apenas “algumas dúzias de peixes ou até menos”. Para o jornal, essas críticas podem provocar o prolongamento do processo de análise e também servir de argumento para grupos ambientalistas e de consumidores. Esses representantes da sociedade civil ouvidos pela FDA no dia 20, em sua maioria, pediram o veto ao salmão geneticamente modificado.

O sistema de aprovação do salmão transgênico em curso na agência norte-americana segue as regras do procedimento usado para aprovar drogas de uso veterinário, diz o NYT; se a aprovação ocorrer, provavelmente deverá demorar vários meses. O estudo de impacto ambiental apresentado pela AquaBounty Technologies à agência reguladora dos EUA informa que a empresa vem desenvolvendo essa variedade de salmão transgênico há 15 anos. Segundo o New York Times, a FDA informou que deve preparar um relatório de impacto ambiental que pode ficar aberto para comentários por 30 dias; caso conclua pela existência de “impactos ambientais significativos” — o que é pouco provável, de acordo com o jornal —, terá que fazer um estudo de impacto mais completo que pode levar meses ou anos.

Íntegras
Informação oficial sobre o salmão transgênico, em processo de avaliação nos EUA; e o relatório mundial das patentes: Leia!

EcoDebate, 13/10/2010

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