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Troca de experiências marca o início do I Seminário de Vigilância e Fiscalização em Terras Indígenas do Acre

Os primeiros dias do I Seminário de Vigilância e Fiscalização em Terras Indígenas do Acre, promovido pela Associação do Movimento de Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, foram marcados pelos relatos de ações que as comunidades vem realizando para impedir invasões em suas florestas e saques de seus recursos naturais. Desde a manhã até à noite, as rodas de conversa aconteceram no plenário e nas áreas de convivência do Centro de Formação Povos da Floresta da Comissão Pró-Índio do Acre.

Os povos Jaminawa, Manchineri, Kaxinawá, Ashaninka, Arara/Shawadawa, Nawa, Poyanawa, Kuntanawa estão presentes no Seminário. São representantes de 15 terras indígenas que trazem suas experiências de ações que as comunidades indígenas tem realizado para impedir a invasão de pessoas estranhas e as ameaças às suas áreas e aos seus recursos naturais.


Fiscalização comunitária, diálogos, apoio de parentes vizinhos, acordos comunitários de convivência, todas as ações estão sendo consideradas de grande importância, necessárias mesmo para que se restaure a harmonia e a bom convívio entre índios e não-índios. Mas falta aquilo que mais é preciso ter: o apoio dos órgãos que tem o dever de proteger estes territórios. “A gente ta enfrentando tudo muito só, sem apoio” é o que diz Lucila Nawa. Para ela, a FUNAI e o IBAMA deveriam levar a sério o trabalho dos Agentes Agroflorestais Indígenas, porque afinal eles são os verdadeiros “guardiães da floresta e a função deles é ajudar os nossos governantes a administrar o nosso Estado”.

Julio Jaminawa também avalia que o grande problema que as Terras Indígenas enfrentam é a falta de interação com os parceiros, os órgãos de governo que dificilmente aparecem nas reuniões e, bem menos, nas aldeias: “eu acho que interagir com nossos parceiros poderia minimizar os problemas das Terras Indígenas. A distância que eles tem da gente é um problema grave. Cada povo está fazendo a sua parte, mas os parceiros tem que se envolver mais”.

Os problemas enfrentados são diversos: invasão de madeireiras ilegais, caçadores e pescadores clandestinos, explorações de petróleo do lado peruano que afetam a região de fronteira, a construção da BR 364 e seus impactos ambientais, o tráfico de drogas com suas rotas dentro das terras indígenas, a proximidade com a cidade que facilita a entrada de álcool e da prostituição, as populações do entorno que por não possuirei uma consciência mais aprimorada sobre a importância da preservação dos recursos naturais, acabam conflitando e ameaçando o modo de vida dos vizinhos indígenas. “Cada terra tem seus problemas especiais e aqueles que são comuns precisam de soluções conjuntas”, diz Luiz Poyanawa, o Puê, que na sua língua significa forte, lutador, guerreiro. “É assim que os parentes devem se sentir e ser, porque a luta não é pouca, a luta não pode ser fraca. E todos nós parentes de diferentes terras indígenas, falando pros outros como é sua forma de convivência, o seu plano de gestão territorial, como estão utilizando e protegendo suas florestas, e vindo aqui complementar o que um e outro faz, é dizer que todos nós somos professores uns dos outros”.

Essa é a grande lição que, até agora, os participantes do I Seminário de Vigilância e Fiscalização Ambiental em Terras Indígenas do Acre tem aprendido: a roda de conversa e a troca de idéias é o melhor momento para clarear as idéias e encontrar soluções.

Colaboração de Lígia Apel, Comissão Pró-Índio do Acre, para o EcoDebate, 09/07/2010

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