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Mosca negra é combatida sem uso de agrotóxicos na Paraíba

Agricultores familiares da Paraíba vêm conseguindo controlar a mosca negra com produtos naturais e sem usar agrotóxicos. É o que ficou comprovado durante a reunião promovida pelo Polo da Borborema no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca (31/5), que contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre agricultores dos municípios de Lagoa Seca, Matinhas, Alagoa Nova, Massaranduba, Lagoa de Roça e Remígio, organizações da agricultura familiar, assessores, representantes do governo e professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O objetivo da reunião foi difundir as experiências bem-sucedidas e denunciar a política oficial de combate à praga.


Os últimos meses foram marcados por uma forte mobilização das famílias agricultoras do brejo paraibano em busca das melhores práticas de controle da mosca negra. Entretanto, as estratégias dos agricultores têm entrado em conflito com as propostas do governo estadual. Enquanto os órgãos oficiais insistem no uso em larga escala do agrotóxico Provado SC200, as famílias agricultoras estão convencidas de que a solução se encontra no controle biológico das lavouras associado à aplicação de produtos naturais menos agressivos ao ambiente e alertam para os altos riscos que a aplicação do veneno pode trazer para a saúde dos agricultores e consumidores. Estudos têm mostrado que esse tipo de produto pode causar falta de coordenação motora, tremores, diarreia, perda de peso, alterações na tireoide e também pode estar associado ao desenvolvimento de câncer. Vale ressaltar ainda que muitos países já suspenderam ou mesmo baniram o emprego do Provado SC200.

Apesar dos riscos, os técnicos do governo têm procurado convencer os agricultores ao atrelar a aplicação do veneno à emissão do Certificado de Origem Fitossanitária(CFO), necessário para a comercialização da produção para outros estados.

Guimarães, agricultor do sítio Oiti de Lagoa Seca deu seu depoimento sobre o assunto: Os técnicos não deveriam exigir a aplicação do veneno para a emissão do CFO, pois o que interessa é que o pomar esteja sadio, sem o ataque da mosca negra.

Um dos pontos altos da reunião foi justamente quando Maria de Fátima, agricultora de Matinhas, relatou que seu filho havia se intoxicado com o Provado e lamentou o fato de ter seguido a orientação de aplicar o veneno em sua lavoura.

A opção pelos agrotóxicos contraria as práticas das famílias agricultoras da região do Brejo da Borborema que tradicionalmente produzem frutas em sistemas altamente diversificados, onde a própria natureza sempre se encarregou de equilibrar as populações de insetos e pragas. Com a infestação inesperada da mosca-negra, os agricultores viram a necessidade de tomar iniciativas rápidas e enérgicas, mas desde que estas se enquadrem em suas práticas agroecológicas e que não impliquem o uso de venenos. Para tanto, testaram vários produtos naturais e vêm obtendo sucesso no controle da praga, mostrando que o emprego de agrotóxicos não se justifica.

Estão sendo experimentados diversos compostos, tais como os extratos feitos com pó da folha de nim, óleo de nim e detergente neutro, coquetel de extratos vegetais com urina de vaca e álcool com castanha-de-caju (ACC).

O agricultor Francisco de Assis, que vem utilizando o óleo de nim, afirma: Tô feliz, porque tá tudo verde, tá bonito e a fruta tá boa.

Como cada composto tem uma receita e um modo de aplicação próprio, foi produzido um boletim com o objetivo de simplificar o uso e contribuir para a disseminação dessas soluções que, ao contrário dos agrotóxicos, não oferecem perigo ao meio ambiente nem aos produtores e consumidores.

Após a reunião, em entrevista ao Programa Domingo Rural, o representante do Pólo da Borborema, Nelson Anacleto, disse que o movimento dos agricultores saiu fortalecido, já que conseguiu reunir produtores dos principais municípios atingidos pela praga e que têm apresentado resultados positivos nas unidades produtivas onde predomina a Agroecologia. Os agricultores estão resistindo contra as pressões principalmente da Emepa e da Emater (…), demonstrando a sua firmeza, a sua capacidade e, mais importante, o fato de estarem controlando a praga e poderem ser repassadores dessas experiências para outros agricultores que, infelizmente, ainda são incentivados a entrar no mundo dos agrotóxicos, explica. Além disso, Nelson lembrou que o evento também serviu para denunciar os problemas que vêm sendo registrados.

Diante dos bons resultados, os agricultores e as organizações assessoras esperam que o governo reveja sua estratégia e respeite a experiência e o direito das famílias agricultoras de continuar utilizando os princípios agroecológicos para produzirem alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos.

Veja também a matéria sobre a reunião em Lagoa Seca veiculada na TV Paraíba: Sem Pesticida.

Para saber mais sobre a mobilização dos agricultores paraibanos contra o uso de agrotóxicos, leia:

Reunião do Pólo revela produção de laranja agroecológica mesmo com presença da Mosca Negra

Agricultores rejeitam uso de agrotóxicos contra mosca negra

Combater mosca negra com agrotóxicos pode trazer mais prejuízos

Nota da AS-PTA, publicada pelo EcoDebate, 21/06/2010

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