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Artigo

Confinados pelo mata-burro, artigo Bruno Peron

[EcoDebate] A responsabilidade é diretamente proporcional à consciência dos atos cometidos, dizem-nos os entes amigos que nada mais querem que prosperemos e amemo-nos uns aos outros.

O planeta adoece enquanto se extrai a maior porção tecnicamente possível de sua seiva: derrubada de árvores, poluição desmedida, apropriação de fontes não-renováveis de energia, industrialização e venda de produtos maléficos ao consumo.

A humanidade caminha em passos largos na direção errada. O desenvolvimento moral não tem acompanhado o técnico. Pior que isso: poucos sabem onde está o bom exemplo.

O Instituto Oceânico e Atmosférico Nacional estadunidense (NOAA, do acrônimo em inglês) informou que, no mês de março, as temperaturas globais foram as mais altas desde que começou a medição em 1880 para este período do ano.

Derrota para a espécie que se crê a mais evoluída do planeta.

Enquanto isso, Barack Obama planeja vulgarizar viagens espaciais injetando dinheiro em empresas privadas do setor. O estadista quer enviar uma missão tripulada a Marte e, logo em seguida, astronautas a algum asteroide.

Foi-se o tempo em que a escalada ao Everest e outras proezas eram atributos de próceres, porquanto hoje a pretensão é de abandonar a agoniada Terra em prol de passeios bilionários ao espaço sideral.

O ser cauto evita julgar outrem, porém não esconde que o débito dos seres inescrupulosos é colossal. Cabe-nos perseverar no bem ainda que desconfiemos de que o impacto é menor do que o provocado pelos pujantes, que infelizmente têm maior visibilidade.

Este raciocínio tentativo leva-nos primeiramente a discutir as ações antrópicas no globo a fim de, em seguida, assinalar o desperdício de responsabilidades pelos líderes estadunidenses, ávidos de destruição e ganância, entre outros dejetos da Terra.

A caminho de superar este estágio e como cidadãos de países “terceiro-mundistas”, resta-nos resistir aos tentáculos da medusa predadora que, desde sua posição de supremacia, fagocita a nossa independência e soberania.

O introito administrativo de Sebastián Piñera propôs, ao contrário do que se esperava, o aumento de impostos de grandes empresas para que apoiem a reconstrução do Chile.

Frente à devastação sísmica sem precedentes que assolou a população chilena de poucos recursos, atitudes demonstram que, independentemente de qual seja o espectro ideológico dos tomadores de decisão, é premente exigir mais dos pujantes.

Por sua vez, a rixa entre os governos de Colômbia e Venezuela traz sua manifestação mais recente: autoridades colombianas recomendam precaução aos turistas vernáculos que cruzam a fronteira com o pretexto de que oficiais venezuelanos os têm interrogado e encarcerado.

A repressão aos opositores na Colômbia e a alcunha de “terrorista” a qualquer indivíduo ou grupo simpatizante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) sinalizam que a oposição é taxada de criminosa neste país.

A paisagem tupinica requer parágrafos exclusivos tamanho é o escancaramento onde a justiça é ignominiosa. Algumas figuras públicas são cientes de sua condição criminosa se ingressarem noutro país, porém aqui são andarilhos tão soltos como urubus que revolvem atrás de carniças.

Diversão maior aos seres cônscios não existe que a crença de espectadores estrangeiros de que o Brasil é uma “potência emergente”. Qualquer olhadela in loco desmistifica este papel e reconhece que o país padece dos problemas sociais mais básicos.

O Brasil assiste à disputa precipitada do conteúdo gasoso e petrolífero da recém-descoberta camada pré-sal, enquanto a Argentina segue lutando pela recuperação das Malvinas.

Mal caem as lágrimas celestes e os terráqueos disputam quem estenderá as mãos para agarrá-las. A busca insaciável da mão divina remonta à época em que o Egito era a “dádiva do Nilo”.

Carecemos de zelo pelo coletivo sem o qual os pujantes perpetuam-se em condições privilegiadas e tratam-nos como animais confinados pelo mata-burro. Nega-se-nos o traspasso à dignidade.

Não se submeta aos mandos de seres irresponsáveis.

Reconheça seu papel como semeador de esperanças.

* Colaboração de Bruno Peron, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 03/05/2010

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