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Artigo

Considerações sobre o livro ‘A ditadura da mídia’, de Altamiro Borges, por Bruno Peron

[EcoDebate] Os argumentos de Altamiro Borges em “A ditadura da mídia” (São Paulo, Editora Anita Garibaldi, julho de 2009) são atuais, oportunos e convidativos ao olhar crítico da comunicação no Brasil.

O autor, porém, situa mal o objeto de sua crítica. No início da leitura, tive a impressão de que Borges definiria os culpados como a “mídia” em vez de empresários e conglomerados que expressam seus valores através dela. Ao longo da leitura, o autor pende para esta segunda opção.

Não podemos ignorar que os meios de comunicação são apenas meios por onde circulam imagens, sons, opiniões, e que nos trouxeram a possibilidade de conhecer o diferente e o distante. Não confundamos as ferramentas com seus usuários.

Cada leitor ou espectador tem a prerrogativa de selecionar o que lê, vê e escuta, assim como a humanidade sempre teve que fazer desde os discursos na ágora ou as conversas de boteco.

A visão de Borges é sectária – o autor milita no PCdoB – e tolera que os partidos de esquerda também usam de meios de comunicação para manipular as massas e atingir objetivos eleitorais.

O autor concentrou-se pouco no que deveria ser a criação de condições para que os indivíduos, grupos e partidos progressistas tenham maior acesso aos meios de comunicação ao mesmo tempo em que se instrua a população a prezar pelo bem público material e ideologicamente.

Uma das melhores revelações do livro é quando Borges fala da “defesa dos instrumentos próprios dos explorados” e neste momento entendi que não se trata só de censurar os poderosos.

Borges aborda temas centrais na discussão sobre a liberdade de expressão no Brasil, como o das rádios comunitárias. O capítulo “A demonização das rádios comunitárias” foi um dos únicos textos em que minha concordância com o autor foi plena.

Borges discute sobre a convergência digital, a queda de assinaturas de jornais impressos e o impacto dos blogs com mestria. Temas prementes no jornalismo. São três fenômenos que nos exigem pensar nos meios hoje diferentemente de como eram há vinte ou trinta anos.

O argumento de Borges sobre os blogueiros e o aumento da descrença dos estadunidenses (e por que não os nativos de outros países?) no que leem converge com o meu de que o problema não são os meios senão quem se expressa através deles e o que o leitor e o espectador busca como fonte de notícias e entretenimento.

Poderíamos, nalgum momento, entrar na discussão sobre a diferença entre “notícia” e “fato”. Brevemente: a primeira é criada, selecionada e direcionada; a segunda, jamais poderá ser relatada.

Em relação ao poder excessivo de grupos mediáticos, concordo com Borges sobre as críticas aos valores neoliberais, as mentiras que justificam guerras e o efeito consumista da programação dos principais meios de interesse privado, inclusive quando critica por fim os “reality shows”.

É burocrático abrir uma rádio, um jornal ou um canal de televisão. Faz-se necessária, em muitos casos, a publicidade para manter pequenos empreendimentos em meios de comunicação.

Borges recorda que há avanços na construção de meios públicos de comunicação e veículos alternativos no Brasil, Bolívia, Nicarágua e Venezuela. Vozes discordantes devem-se tornar audíveis.

Há que contrabalançar os monopólios. Lamentavelmente não é um fenômeno que acontece só no Brasil. Há práticas clientelistas entre políticos e empresários do setor, debilidades na legislação.

Apesar das críticas que faço ao livro, considero-me um admirador de Altamiro Borges.

O que mais estimo em Borges é seu teor de denúncia e de preocupação com os mais fracos no Brasil. Exibe dados e informações que não veríamos em qualquer meio privado. Recomendo a leitura por esta razão. É um militante despudorado e que nos deixa boquiabertos.

Resta-nos, contudo, propor mais e censurar menos.

* Colaboração de Bruno Peron para o EcoDebate, 06/04/2010

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