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PR: Programas do governo e empresas trocam pinus, espécie exótica que causa danos ao ecossistema, por árvores da flora local

Rodrigo Ribeiro, gerente do projeto Serra Nativa: área recuperada fará parte de um parque nacional quando a substituição de árvores estiver concluída
Rodrigo Ribeiro, gerente do projeto Serra Nativa: área recuperada fará parte de um parque nacional quando a substituição de árvores estiver concluída. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Árvores como o pinus tiveram uma época de sucesso em décadas passadas: usado na produção de papel, celulose e madeira para móveis, o pinus crescia rápido e era uma opção mais viável para o reflorestamento. Mas, por não ser originário do Brasil, se tornou uma grande ameaça à conservação de espécies nativas no Paraná, estado que conta com a maior área contínua de Mata Atlântica do país. No entanto, o poder público e a iniciativa privada no estado se tornaram pioneiros no desenvolvimento de programas para controle e erradicação de espécies exóticas invasoras.

Para a engenheira florestal Silvia Ziller, fundadora do Instituto Hórus de Desenvol­­vimento e Conservação Am­­biental, o Paraná é o estado mais avançado em termos legais e no estabelecimento de procedimentos técnicos para a erradicação de espécies invasoras. Uma das primeiras ações do Instituto Am­­biental do Paraná (IAP) nesta direção foi o projeto de erradicação de pinus no Parque Estadual de Vila Velha. Em pouco mais de dois meses, foram retiradas cerca de 500 mil árvores, em parceria com a Associação Para­naense de Empresas de Base Florestal do Paraná. No Parque Estadual do Monge e no Parque Estadual do Cerrado, iniciativas semelhantes à de Vila Velha também já começaram. Reportagem de Jennifer Koppe, no Gazeta do Povo, PR.

Invasoras – Conheça algumas espécies exóticas que prejudicam a biodiversidade no Paraná:

Plantas
Ipê-de-jardim
Castanheira
Beijinho
Braquiária
Bambu

Animais
Javali
Lebre europeia
Sagui
Faisão
Rã africana

Fonte: Lista Oficial de Espécies Exóticas Invasoras para o Estado do Paraná.

Jardins e hortas ajudam a espalhar espécies

A jardinagem, o paisagismo e a horticultura são as principais formas de dispersão de plantas exóticas invasoras no país. Plan­tas ornamentais que à primeira vista parecem inofensivas po­­dem causar grandes estragos, segundo a engenheira ambiental Silvia Ziller, do Instituto Hó­­rus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. Plantas ornamentais como os beijinhos, a uva do Japão, o amarelinho e até a samambaia fazem parte do grupo de invasores. “Elas se disseminam rapidamente para outros locais, mesmo que tenham sido plantadas em seu jardim. Suas sementes são levadas pela água e até pelo vento”, explica.

Animais de estimação como peixes de aquário, aranhas e iguanas também podem prejudicar as florestas locais quando inseridos nelas. Silvia lembra que o sagui, originalmente do Nordeste brasileiro e facilmente encontrado no Parque Barigui, é um feroz predador de aves. O pombo, a lagartixa de parede e o periquito-rico também são considerados invasores de ambientes urbanos e periurbanos do Paraná. Já nas regiões de florestas e rios, árvores como a braquiária, o alfeneiro e a centela são consideradas invasoras, assim como os javalis, os micos e os cágados.

Para saber quais espécies não devem ser plantadas ou criadas em sua região, o Instituto Am­­biental do Paraná divulgou no ano passado a segunda edição da Lista Oficial de Espécies Exóticas Invasoras. Ela conta com 57 espécies de plantas e 26 animais considerados exóticos aos ecossistemas paranaenses. Para consultar a lista, acesse www.institutohorus.org.br

Recuperação

Atualmente, no Brasil, restam apenas 7% de remanescentes de Mata Atlântica em bom estado de conservação. Especialistas das principais organizações ambientalistas identificaram mais de 17 milhões de hectares de terras que estão degradadas, mas que têm alto potencial de recuperação de sua cobertura vegetal. O movimento Pacto pela Restuaração da Mata Atlântica foi recentemente criado com a meta de viabilizar a restauração de 15 milhões de hectares até 2050. (JK)

Serra do Mar

O Projeto Serra Nativa, desenvolvido pela empresa de papel e celulose Norske Skog Pisa, também é convergente ao programa do IAP e conta com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O objetivo da empresa, que fabrica papel imprensa, é recuperar uma área de 1,3 mil hectares (equivalente a 1,3 mil campos de futebol) pertencente à Fazenda Arraial, que fica na Serra do Mar, entre os municípios de São José dos Pinhais e Morretes.

Toda a fazenda, que pertence à empresa desde 2001, tem cerca de 10 mil hectares e faz divisa com a Área de Preservação Ambiental de Guaratuba, o Parque Estadual do Marumbi e o Parque Estadual do Pau Oco. Segundo o gerente do projeto, Rodrigo Ribeiro de Souza, entre as décadas de 60 e 70 do século passado a mata nativa da região foi toda derrubada para dar lugar à plantação de pinus. A derrubada da floresta foi, inclusive, incentivada pelo governo federal na época, por seu valor econômico. “Felizmente, as coisas mudaram. O cultivo de pinus é necessário, mas desde que manejado corretamente e em locais adequados ao seu plantio, para que ele não contamine a biodiversidade local”, explica.

Etapas

O projeto será dividido em duas fases, como explica Ribeiro. A primeira etapa será de reabilitação da área e levará dois anos para ser concluída. As espécies exóticas serão retiradas do local e, nas áreas em que a vegetação natural não tem condições de se restaurar sozinha, será feito o plantio de mudas de espécies nativas. Estima-se o plantio de 250 mil mudas de dez espécies diferentes, entre elas a bracatinga e a canela-guaicá, além de pés de araçá, pitanga e outras árvores frutíferas.

A segunda fase será de monitoramento da região. Como os pinus conseguem se disseminar com facilidade, será preciso controlar a sua brotação. Essa etapa levará cerca de seis anos. “Acreditamos que dentro de 15 anos a vegetação da reserva estará completamente restaurada. A capacidade de regeneração das espécies nativas é muito boa. Boa parte da área terá condições de se restabelecer naturalmente”, conta Ribeiro.

O projeto, totalmente autossustentável, está orçado em R$ 10 milhões. Ribeiro conta que a madeira das árvores retiradas está sendo vendida para as serrarias da região. A previsão é que cerca de 10 caminhões carregados de pinus começarão a deixar a reserva diariamente a partir desta semana. “Como em muitas áreas as espécies exóticas estão misturadas às espécies nativas, estamos estudando formas de causar o menor impacto possível. A ideia é aproveitar áreas já abertas, criar corredores e fazer cortes direcionados para que a queda das árvores afete áreas menores”, explica a engenheira Silvia Ziller.

Silvia lembra ainda que a restauração da mata nativa beneficiará também a fauna local, principalmente depois da primeira fase do projeto. “A ocupação será gradativa, mas acredita-se que os mamíferos serão os primeiros a voltar a ocupar o local”, afirma. No futuro, a Fazenda Arraial fará parte do Parque Nacional Guaricana, que também englobará duas outras fazendas que pertenciam ao extinto Grupo Bame­rindus e foram repassadas ao IBAMA pelo Banco Central. O novo parque terá 33,6 mil hectares.

Perigo

As espécies exóticas invasoras – tanto animais quanto vegetais – são reconhecidas como a segunda causa mundial de perda de diversidade biológica, atrás apenas para o desmatamento. Essas espécies, segundo Silvia Ziller, produzem mudanças e alterações nas propriedades ecológicas do solo, na absorção de nutrientes das espécies nativas, na estrutura dos ecossistemas e na distribuição da biomassa de uma área florestal. “Tanto plantas como animais exóticos invasores conseguem se reproduzir rapidamente e dominar a floresta, expulsando as espécies nativas e causando até a extinção da flora e fauna locais. Espécies como o capim gordura, por exemplo, contribuem para a disseminação de incêndios florestais. Há ainda as espécies que invadem as margens, diminuindo a disponibilidade de água. Chegam a secar nascentes e pe­quenos córregos”, explica a especialista, que também é coordenadora do Pro­gra­ma de Es­­pécies Invasoras para a Amé­rica do Sul da ONG The Na­­ture Conservancy.

EcoDebate, 22/01/2010

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