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Países europeus querem explorar energia elétrica oriunda das ondas do mar

Vista geral da instalação das turbinas capazes de transmitir energia das ondas que se instalaram en Strangford, na Irlanda do Norte, e que está em operação desde meados de 2008. Foto DPA/Der Spiegel
Vista geral da instalação das turbinas capazes de transmitir energia mareomotriz que se instalaram en Strangford, na Irlanda do Norte, e que está em operação desde meados de 2008. Foto DPA/Der Spiegel. Para acessar o infográfico do projeto clique aqui

No Reino Unido e outros países europeus, as empresas estão se preparando para usar a energia das ondas e marés do oceano para produzir eletricidade. O Reino Unido espera produzir até 5% de suas necessidades de eletricidade com usinas maremotrizes.

O Reino Unido espera em breve assumir a liderança global na exploração da força das marés para produção de energia limpa. A expectativa é de que uma única usina de força cubra 5% das necessidades de eletricidade do país, fornecendo 8,6 gigawatts de eletricidade livre de CO2, o equivalente a cerca de oito usinas nucleares – sem o incômodo do lixo nuclear.

A altura da maré na boca do Severn, o maior rio do Reino Unido, é de 15 metros. O país agora deseja fazer uso desta enorme força com seu projeto da Barragem de Severn. A barragem conterá a água na maré alta igual a uma barragem de hidrelétrica, e 216 turbinas gigantes – cada uma com cerca de 9 metros de diâmetro – serão alimentadas com o subir e baixar da maré. Reportagem de Henning Zander, no Der Spiegel.

Os críticos do projeto temem que ele perturbará o ecossistema do rio e notam que seu financiamento continua uma questão em aberto. Todavia, a energia lunar que afeta as marés é inesgotável – e este é o motivo para muitos estarem vendo o projeto com grande interesse. Apesar de alguns protestos, especialistas de todas as partes do mundo estão trabalhando para explorar esse poder eterno.

A força das marés também poderia ser explorada na Alemanha, argumenta Kai-Uwe Graw, um professor de engenharia hidráulica da Universidade de Leipzig. Graw diz que velocidades de fluxo suficientes – cerca de três metros por segundo é o ideal – podem ser encontradas em partes da ilha de Sylt, perto da fronteira entre a Alemanha e a Dinamarca.

Graw começou a promover a conscientização do potencial das usinas maremotrizes nos anos 90. Na sua opinião, as usinas maremotrizes podem facilmente ser compatíveis com os esforços de conservação costeiros. Um benefício é que as instalações extraem parte da energia das marés, o que poderia ajudar a reduzir o tipo de erosão costeira e das praias que é um grande problema nas ilhas do Mar do Norte, como Sylt, nos últimos anos.

A energia elétrica das marés está pronta para ganhar proeminência?
Até recentemente, a tecnologia não estava pronta para proeminência. Um grande obstáculo era o fato de as turbinas, que ficam submersas, serem colocadas sob extrema pressão à medida que as forças da água movimentam as pás do rotor – uma pressão que pode variar em diferentes partes do equipamento e, portanto, exigir um desenho altamente resistente. Os rotores também precisam acompanhar a direção da mudança do fluxo da maré, visando otimizar a produção de energia. No passado, também não havia solução simples e barata para a manutenção e conexão das usinas à rede elétrica.

Mas Graw argumenta que a tecnologia agora está mais madura e que chegou sua hora. O fato de a tecnologia agora funcionar, ele diz, é comprovado pela usina maremotriz SeaGen, o longo da baía de Strangford, na costa da Irlanda do Norte, que está em operação desde meados de 2008. Lá, o equipamento funciona como um moinho submarino. As pás do rotor são movimentadas pela força das marés, que possuem uma velocidade de 2,4 metros por segundo. Dois rotores com o diâmetro de 16 metros cada são capazes de gerar até 1,2 megawatt nessa velocidade – o suficiente para fornecer eletricidade para cerca de 1.000 casas. Atualmente a SeaGen é a usina maremotriz mais poderosa do mundo. Em comparação, uma grande turbina eólica é capaz de produzir 5 megawatts de eletricidade.

Tecnologia alternativa
Em Strangford, as pás da turbina são fixadas a uma barra transversal e a uma torre que permitem que sejam retiradas da água para um fácil trabalho de manutenção. A torre tem 40,7 metros de altura e mais da metade, cerca de 24 metros, fica debaixo d’água. É um desenho que não funcionaria na costa alemã. Mas a empresa Voith Hydro, na cidade alemã de Heidenheim, deseja apresentar um protótipo de usina maremotriz no final do ano – juntamente com a subsidiária Innogy da gigante energética alemã RWE – que não depende de uma estrutura de torre e repousaria debaixo d’água, fixada no fundo do oceano. As pás do protótipo parecem mais com a hélice de uma lancha do que um moinho; e são projetadas simetricamente, para que não precisem ser reposicionadas durante a mudança do fluxo das marés.

O protótipo faz parte de um projeto de usina de força planejada para a costa sul-coreana. A longo prazo, turbinas suficientes deverão ser acrescentadas para gerarem um total de 600 megawatts de eletricidade – tanto quanto uma pequena usina elétrica a carvão – e fornecer eletricidade para cerca de 400 mil lares coreanos. Projetos-piloto também são planejados para a Europa.

A energia das marés é compatível com o meio ambiente?
O principal impasse com a energia maremotriz no momento é a proteção ambiental. Os especialistas estão divididos a respeito do impacto ambiental das usinas maremotrizes. Mas a geração atual de turbinas é melhor para o meio ambiente do que as gerações anteriores de usinas maremotrizes.

Quando a grande usina maremotriz em Saint-Malo, França, à boca do Rio Rance, entrou em operação em 1966, ela causou um impacto considerável na vida animal e vegetal. O velho sistema de barragem funciona como uma represa na boca do rio quando em operação, fazendo com que a água em movimento fique parada e alterando as condições de vida para a fauna e flora.

Mas com a mais recente geração de sistemas maremotrizes, peixes e outras espécies podem facilmente evitar as unidades nadando ao redor delas. Além disso, elas não causam impacto à costa, porque as turbinas ficam fixadas no solo.

Em termos de custo, entretanto, a energia maremotriz não representa uma concorrência. O uso da energia das marés ainda é muito caro – até mesmo em comparação a outras energias renováveis. Segundo cálculos do governo britânico, a eletricidade obtida com o projeto da Barragem de Severn custará cerca de 317 libras (US$ 503) por megawatt/hora. Em comparação, a energia eólica marítima custa cerca de 85 libras por megawatt/hora.

A energia maremotriz também não será barata na Alemanha. Mas ainda faz sentido para o país buscar a tecnologia, argumenta Graw. Afinal, as empresas alemãs já estão entre as líderes globais em energia hidrelétrica. A construção de um protótipo em casa, ele diz, é uma obrigação.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Reportagem [Tidal Energy: Tapping the Power of the Sea] do Der Spiegel, no UOL Notícias.

EcoDebate, 11/01/2010

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