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Editorial

No limite da intolerância, por Henrique Cortez

[Ecodebate] O noticiário, seguidamente, informa os mais variados atos de intolerância, no Brasil e no mundo, no que parece ser uma perigosa e crescente ‘onda’ de ódio e preconceitos. Uma ‘onda’ assustadora que pode por em risco nosso futuro comum.

Seria de se esperar que, com o advento de um novo século, fosse iniciado um novo período de tolerância e de respeito ao outro, quem quer que seja. No entanto, lamentavelmente, não é isto que se observa. Na prática, está evidente o crescimento de uma onda global de intolerância, de preconceitos e de absoluta rejeição aos que, de algum modo, são diferentes. Esta ‘onda’ de intolerância é crescente na Europa, no Oriente Médio, na Ásia e também Brasil.

A cada dia vemos novos e, cada vez mais, raivosos discursos, textos, artigos, declarações e etc, que são evidentemente racistas, preconceituosos e intolerantes.

No Brasil, aparentemente, crescem as posições hostis aos indigenas e quilombolas, aos movimentos sociais e populares. Não são poucos os que defendem a “erradicação” das favelas, do controle de natalidade (dos pobres evidentemente) e da criminalização dos movimentos sociais.

Mais da metade das jovens entre 16 e 20 anos já sofreu algum tipo de agressão física ou moral pelos namorados.

Nas escolas públicas brasileiras, 87% da comunidade – sejam alunos, pais, professores ou servidores – têm algum grau de preconceito contra homossexuais. O dado faz parte de pesquisa divulgada recentemente pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Mascaramos o nosso racismo fazendo de conta que somos um país que se orgulha da micigenação, mas de cada dez pobres, sete são negros. Uma pesquisa do instituto Datafolha , de nov/2008, identificou que 93% dos entrevistados reconheciam que existia racismo no Brasil, mas apenas 3% declararam seu preconceito contra negros. Ou seja, apenas os outros são racistas…

Ninguém nasce intolerante, preconceituoso, racista, homofóbico, supermacista, antisemita, islamofóbico, etc. Estas são atitudes que aprendemos desde o berço, herdadas da intolerância, aberta ou camuflada, de nossos antepassados. Se não tivermos capacidade crítica de compreender nossos próprios preconceitos e supera-los, iremos, certamente, reproduzir o modelo, contaminando o berço de nossos descendentes.

Mesmo a intolerância religiosa está em franco crescimento, sabotando todos os esforços em prol do ecumenismo e do diálogo interigrejas.

Todo intolerante, de qualquer tipo, é alguém que acredita estar absolutamente certo, do que quer que seja e, portanto, todos os que pensam ou são diferentes estão absolutamente errados. Simples assim.

Muito sangue já foi derramado a partir desta lógica perversa e, infelizmente, tudo indica que muito sangue ainda irá correr.

Muitos desafios se apresentam neste novo século, com destaque para as mudanças climáticas, aquecimento global, hiperconsumo, esgotamento de recursos naturais, crise alimentar, refugiados ambientais, etc.

São desafios globais, que devem ser enfrentados por todos indistintamente e, mais do que nunca, precisamos uns dos outros, valorizando o que nos une e desprezando o que nos distancia.

Se não nos esforçarmos para sermos melhores do que nossos antepassados, os novos desafios deste século serão muitos maiores e mais poderosos do que todos nós.

Henrique Cortez, henriquecortez{at}ecodebate.com.br
coordenador do Portal Ecodebate
batendo bumbo

EcoDebate, 08/12/2009

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