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Sistema agroflorestal evita devastação e reduz emissão, artigo de Carine Correa

Sistema agroflorestal pinus x erva-mate x soja aos dois anos e meio após a implantação. Propriedade de Gregorio Cigainski, Áurea, RS. Foto: Adroaldo José Waczuk, URICER-Campus de Erechim, RS/ Embrapa
Sistema agroflorestal pinus x erva-mate x soja aos dois anos e meio após a implantação. Propriedade de Gregorio Cigainski, Áurea, RS. Foto: Adroaldo José Waczuk, URICER-Campus de Erechim, RS/ Embrapa

Às vésperas da Convenção das Nações Unidas sobre o Clima, em Copenhague, na Dinamarca, onde países vão discutir redução de emissão de CO2, um projeto pioneiro executado há 22 anos por pequenos agricultores em Nova Califórnia, Rondônia, de atividades extrativistas pelo sistema agroflorestal, evita a devastação de mais áreas de floresta, contribuindo, assim, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O SAF (Sistema Agroflorestal) permite atividades extrativistas sustentáveis associadas à reconstituição de regiões degradadas.

Com apoio do subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), do Programa de Proteção às Florestas Tropicais (PPG7/MMA), o projeto Reca (Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado) é conduzido por uma organização de agricultores associados que optaram por investir na produção de espécies típicas da floresta amazônica, em detrimento da lavoura branca e da pecuária, de forma a garantir a preservação do bioma e o plantio de vegetação nativa. Localizado nas divisas entre o Acre, Amazonas e Bolívia, o projeto se destacou como alternativa econômica bem sucedida em meio a uma região notoriamente desmatada.

A sede da associação beneficia e comercializa a produção de 300 famílias, e indiretamente de outras 500. Atualmente, o Reca conta com cerca de 1500 hectares de SAFs (Sistemas Agroflorestais) implantados em várias áreas de plantios, onde existem mais de 40 tipos diferentes de espécies (dentre frutíferas, madeireiras e medicinais). O reflorestamento é feito de forma consorciada e adensada, com pouquíssimas áreas de monocultura.

Cada agricultor participante recebe pelo que produz e tem o compromisso de plantar pelo menos um produto agroflorestal, além de participar das reuniões promovidas pela organização. A produção é trazida para a sede do Reca para ser beneficiada. Depois os produtos são comercializados pelo grupo, o que garante um aumento do preço final para o produtor. No último ano, a associação teve um faturamento de R$3 milhões, e há a expectativa de que a produção seja duplicada em cinco anos.

Entre as espécies produzidas destacam-se o cupuaçu, pupunha, andiroba, bacaba, copaíba, seringa, sangue de dragão e rambotã. A associação dispõe de três unidades de beneficiamento de palmito pupunha, manteiga de cupuaçu, óleo da castanha da Amazônia e de andiroba, e de polpas de açaí, araçá-boi e acerola. A unidade conta ainda com um barracão para o tratamento das sementes de pupunha e produz também mel, licores, geléias, doces e sabonetes.

De acordo com Hamilton Condack, gerente de comercialização do Reca, trata-se de uma organização social produtiva de base familiar comunitária. O modelo é participativo e de gestão compartilhada, e todo agricultor se sente parte e dono do projeto. O objetivo dos cooperados é promover a sustentabilidade com qualidade de vida, de forma que a sociobiodiversidade da Amazônia seja respeitada.

Ele garante que o sistema já está sendo replicado em outras áreas da região amazônica pelos bons resultados apresentados. “Em uma pequena área de plantio de cupuaçu e pupunha, por exemplo, a renda supera a da criação de 100 cabeças de gado”, explica Condack.

O projeto já recebeu duas vezes o Prêmio Chico Mendes. Também foi condecorado com o primeiro lugar da Fundação Ford e pelo Objetivo Desenvolvimento do Milênio(ODM), do Governo Federal, além de outras premiações relevantes (checar o site da instituição:www.projetoreca.com.br/portal).

O Reca também está investindo no processo de certificação florestal, e hoje 50% da produção vêm de áreas certificadas por órgãos como o Innaflora e Instituto Biodinâmico Orgânico (IBD).

Também está sendo realizado um trabalho de conscientização, treinamento e capacitação de um grupo expressivo de agricultores do projeto. “Pretendemos certificar todas as nossas propriedades, bem como toda a cadeia produtiva”, comenta o coordenador presidente Eugênio Vacaro.

Produção

A produção do Reca (Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado) é comercializada em várias regiões do Brasil, e há representações do Reca em Rio Branco (AC), Porto Velho(RO), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). A organização também tem parceria com a Natura, que consome toda sua produção de manteiga de cupuaçu. Só em 2009, foram entregues 22 toneladas do produto à empresa de cosméticos, que emprega o sistema de repartição de benefícios nessa parceria. Cerca de 0,15% da receita líquida dos produtos à base de manteiga de cupuaçu são destinados à associação.
O Reca também é convidado para participar de feiras em todo o Brasil e outros países amazônicos. Além de vender e expor os produtos, os associados aproveitam as oportunidades para estabelecerem intercâmbios, contactar novos clientes e outras entidades para futuros negócios.

Resultados

O produtor Semildo Kaefer está na região desde 1978, e faz parte do Reca desde o início da associação. Atualmente ele tem 13 hectares de sistemas agroflorestais implementados. Sua produção anual chega a 40 mil quilos de cupuaçu, e há também açaí, café, pupunha, bacaba e rambotã. A renda anual do agricultor varia entre R$ 40mil e R$ 50 mil, e sua propriedade já tem certificação orgânica. Ele garante que “quando há este rótulo não pode haver queimada”.

Já o agricultor Selvino Sordi implantou os SAFs em 5 hectares. No último ano produziu 18 toneladas de cupuaçu, mas chegou a alcançar o recorde de 30 toneladas. A área estava muito degradada antes do sistema agroflorestal, mas hoje ele colhe 22 tipos de espécies em sua propriedade.

Sordi explica que chegou à região em 1976 para criar gado. “A nossa situação melhorou depois que ingressamos no Reca. Sem isso muitas famílias já teriam ido embora, porque houve dificuldades tremendas”, alega o produtor, ressaltando que a associação ajudou a impedir o êxodo das famílias para a cidade.

Residente em Nova Califórnia há 23 anos, Francisco Berkenbrock tem 16 hectares de produtos florestais plantados. Ele foi para a região pensando em implementar lavoura branca. “Antes não tínhamos alternativas e eu não sabia exatamente o que iria acontecer. Passamos por momentos difíceis, e o Reca foi a nossa salvação”.

Hoje toda a família trabalha na produção, e o filho mais velho se formou como técnico agrícola para ajudar a cuidar da propriedade. Ele tem uma safra anual de 19 toneladas de cupuaçu, 4500 hastes de palmito e 2500 quilos de semente de pupunha. Sua renda varia entre R$60 mil e R$70 mil ao ano.

Também oriundo do Rio Grande do Sul, seu irmão Engelberto Berkenbrock tem 6 hectares e admite já ter extraído madeira da floresta pra vender. Ele garante que não compensou tirar madeira da mata, e que atualmente a renda obtida permite que não seja necessário o corte de árvores. “Ganha-se mais dinheiro com a floresta em pé do que derrubada, porque destruindo você só ganha uma vez. E as árvores levam tanto tempo pra crescer de novo que dá pra entender porque é considerado um crime o corte sem manejo”, lamenta.

Seu Raimundo Cunha, 65, é natural da região. Hoje retira 600 quilos de palmito e 3 toneladas de cupuaçu por safra. Ele também planta palmito pupunha, café e castanha. Antes era seringueiro e extrativista de castanha, e admite já ter enfrentado dificuldades para alimentar a família. “O Reca melhorou a vida da gente, e tenho dois filhos que estudaram com apoio da associação”.

Histórico

O Reca foi implementado na região de Nova Califórnia (RO) em 1987, por iniciativa de um grupo de agricultores oriundos de várias partes do Brasil (especialmente do Sul e do Centro-Oeste), que foram assentados pelo Incra no seringal Santa Clara, em meados da década de 70. As terras eram demarcadas e entregues às famílias com a condição de que as mesmas promovessem o desmatamento do terreno para a implantação da agricultura, sem planejamento ou manejo adequados.

Quem não desmatasse corria o risco de perder a terra para outro agricultor, e assim as famílias eram pressionadas a derrubar a floresta. Não demorou muito para que os produtores percebessem que o solo daquela região não era o mais propício para a introdução da chamada lavoura branca, baseada na plantação de trigo, arroz e milho, dentre outras espécies.

Diante das dificuldades encontradas, os agricultores migrantes promoveram uma parceria com seringueiros e pequenos agricultores da região, a fim de montar uma organização extrativista sustentável, que associasse suas experiências de organização social e cooperação aos conhecimentos dos povos da floresta, que conheciam as plantas frutíferas adequadas e melhor época de plantio.

Sem apoio, recursos e assistência técnica, e ainda convivendo com uma forte epidemia de malária, os associados enviaram o primeiro projeto ao então bispo do Acre Dom Moacyr Grech. A proposta foi enviada à Cebemo (Organização Holandesa de Co-financiamento e Desenvolvimento de Programas), que oferece apoio a grupos de países em desenvolvimento. Com os primeiros recursos recebidos, eles implementaram o sistema agroflorestal em 400 hectares, por meio do plantio de pupunheira para frutos, cupuazeiro e castanha da Amazônia (também conhecida como castanha do Pará).

A partir de 1992, o Reca passou por um período de fortalecimento institucional, e outros produtores do Acre e do Amazonas se integraram à associação. Desde então a organização passou a contar com o apoio do MMA, Embrapa/AC, e de diferentes ONGs estrangeiras, como a italiana Milco e a CCFD (Comitê Católico Contra Fome para o Desenvolvimento do Mundo), dentre outras.

O projeto recebe mais de 1500 visitas por ano, tanto de estudantes – alguns deles em fase de mestrado e doutorado – quanto de outras cooperativas, associações, ribeirinhos, grupos indígenas e outros autônomos.

Ação Social

Desde o surgimento da organização existia a preocupação de apoiar a formação educacional dos filhos dos produtores. A intenção é oferecer ensino adequado às famílias, para que os jovens sejam motivados a voltar para o campo e trabalhar na propriedade. A equipe de educação do Reca conseguiu ingressar vários alunos em uma Escola Família Agrícola, onde é aplicada a Pedagogia da Alternância, e está concluindo outra, em parceria com a Secretaria de Educação do Acre.

O aluno frequenta a escola 15 dias por mês, e nos outros 15 aplica as técnicas e conhecimentos aprendidos na propriedade da família. “Dessa forma o jovem não quebra o vínculo social que tem com o ambiente rural onde vive e traz novas possibilidades de desenvolvimento técnico para a família, fatos que contribuem para a redução do êxodo rural”, comenta Hamilton Condack.

Além disso, foi criada uma equipe que desenvolve ações de saúde. Os membros realizam partos e alguns exames para análise de doenças, como malária, com equipamentos disponibilizados na sede. A organização contribui ainda com atividades sociais em todo o município de Nova Califórnia e dá apoio a outras três associações da região.

O Reca também investe em formação técnica para os sócios nas áreas de comercialização, administração rural, compostagem orgânica, práticas de produção e gestão da propriedade.

Organização

A organização é constituída por 12 grupos, cada um com um líder e dois coordenadores. As reuniões acontecem nos primeiros sábados de cada mês, e depois os líderes repassam as informações para seus grupos, que sempre têm uma coordenadora mulher. O líder organiza os trabalhos de grupos, como mutirões e reuniões, e o coordenador os trabalhos direcionadas à organização.

Existem ainda cinco equipes de apoio nas áreas de educação, comercialização, execução de projetos, conselho fiscal e apoio. A cada ano são promovidas duas assembleias gerais, onde todos os associados se reúnem para discutir as decisões finais, como aprovação e balanço de safra. A eleição da diretoria é realizada a cada dois anos.

Hoje a sede do Reca conta com um dormitório, refeitório, auditório para reuniões e salas de escritório. O espaço é utilizado para os encontros e reuniões de toda a associação.

Confira outras espécies encontradas nos SAFs do projeto

Pupunheira para frutos e sementes, acerola, araçá-boi, patoá, copaíba, andiroba, teca, cedro, mogno, cumaru, abiu, cerejeira, açaí de touceira e da espécie solteiro, ipê e amarelão.

Sistema Agroflorestal se sobressai

A experiência em organização social dos produtores do Sul e do Sudeste foi associada aos conhecimentos tradicionais dos agricuoltores locais. Sem apoio do governo, os produtores se organizaram e recebeream apoio de Dom Moarcir, à época bispo do Acre. O projeto foi aprovado e receberu apoio de uma entidade católica holanesa chamanda CEBENO- Bilance- .

Em sua primeira etapa, planejada para ser executada em tres anos, foram financiadaos o plantio de 400 hectares de cupuaçú consorciados com castanha e pupunha. Até 1992.

No início os recursos eram doados para a subsistencia dos agricultores, mas os recursos recebidos eram investidos no projeto comos reusltados da priemria producao, para o fortalecimetno insitutcional. Os valores eram devolvidos em parcelas e o agriculor devolvia o empréstimo com a produção, de forma a possibilitar o desenvovleitno da associação.

A estrutura foi divida em 12 grupos, de acorod com as distancias da spropreidades e vínculos entres as famílias, cada um com um coordenador, uma coordenadora e um líder. 36 pessoas participam da liderança. . Existe ainda o grupo de execução. Um dos pilares da associação é o investimento nas questões sociais.

Percebemos que havia uma defasagem na área de educação dos nossos jovens. Nãop temos profissionais em determiandas áreas, como engenharia de alimentos. Queríamos que os filhos dos agricultores pudessem terminar os estudos sem a necessidade de irem para a caidade. Fizemos um convenio para a impletmantacao das escolas família agrícola. Là o aluno participa da pedagogia da alternacia, em que passa 15 dias na escola e 15 dias com a família, implementando as técnicas aprendidas na propriedade.

O RECa também financiou o estudo de jovens que pudessem retornar à comunidade . Nossa intencao é que cada famíoia tenha um filho que possa estudar e retornar para trabalhar na propriedade, de forma a desenvolver a gestão dos sistemas agroflorestais. A intencao é criar novos profissionais que possam ajudar não só a família, mas principalemtne a comunidade.

Além disso investimos na formação de alguns voluntários que pudessem atuar na área da saúde.

Todo primeiro sábado do mês já um,a reunião com os coordenadores e líderes, fora as reuniões de execução e as reuniões .

O projeto Reca teve início em 1988 e 89. A maioria dos agricultores veio do Sul e do Sudeste do Brasil, para participara de um projeto de demaracçao do Incar na região. Nmaquela época, as pessoas eram obrigadas a desmatar para implementar a propriedade, para não perder a terra para outro dono, mas ficava abandonada à própria sorte.

Começaram então as queimadas, exigências do Incra, para o plantio da lavoura branca.

AS pessoas comecaram a discutir alternativas para fixar o chomeono campo. Resolvemos trabalhar com as culturas das florestas. A união dos conhecimentos dos produtores do Sul do Brasil e dos agricultores locais

O diretor Eugenio, explica que havia uma contadição no in´cio do projeto. Por um lado, o Incra estimulava o desmatamento, e por outro, havia um grupo que buscava financaimentao pra replantar árvores. Não havia pesquia da Embrapa nem dados que poderiam comprovar se iria dar certo ou não.

* Colaboração da Assessoria de Comunicação do Ministério do Meio Ambiente para o EcoDebate, 09/11/2009

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