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Ações locais contra o problema do aquecimento global

Neste mês, o prefeito de Mesa, Arizona, uma cidade de cerca de 500 mil habitantes no sudoeste americano, se tornou o milésimo líder local a assinar um acordo sobre mudança climática sob a Conferência dos Prefeitos dos Estados Unidos.

Ao assinarem o pacto -iniciado em 2005 por Greg Nickels, o prefeito de Seattle e presidente da conferência- os líderes locais se comprometeram a reduzir as emissões de carbono de suas cidades de acordo com as metas nacionais estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto: uma redução de 7% em relação ao nível de emissões de 1990 até 2012. Reportagem de Tom Zeller Jr., no International Herald Tribune.

Assim como os países signatários do acordo de Kyoto, muitas cidades não conseguirão atender esta meta. Mas, com a diminuição das perspectivas de que os líderes mundiais chegarão a um acordo em torno de um tratado sucessor substantivo para o Protocolo de Kyoto, que está prestes a expirar, no encontro de cúpula para mudança climática em Copenhague, em dezembro, esforços locais, como o acordo de prefeitos de Nickels, parecem ganhar uma maior importância.

“As autoridades locais eleitas podem criar ondulações -até mesmo grandes ondas- na luta contra o aquecimento global”, escreveu Nickels na introdução de um relatório, publicado neste mês, acentuando os esforços de 16 prefeitos em várias cidades americanas. “O que fazemos em nossas cidades”, ele prosseguiu, “seja a construção de prédios verdes, criação de postos de recarga de carros elétricos, plantação de florestas urbanas ou a criação de legiões de empregos verdes bem-remunerados, pode servir como modelo para os governos estaduais” e para Washington.

Em uma conversa por telefone no fim de semana, Tom Cochran, o diretor executivo da conferência dos prefeitos americanos, colocou desta forma: “Na minha experiência, os prefeitos sempre mudaram discretamente o comportamento humano -desde os direitos civis até a reciclagem”, ele disse. “Você afeta as coisas de forma global e nacional, mas começa localmente.”

É o sentimento repetido por líderes locais de todo o globo -muitos deles frustrados com as brigas partidárias e chauvinismo nacional em exibição entre os países envolvidos nas negociações sobre o clima.

“A defesa do papel dos governos locais não é um luxo”, disse Barbel Dieckmann, o prefeito de Bonn, em um discurso em vídeo para uma conferência global de prefeitos em junho passado, em Edmonton, Alberta. “É a chave para o futuro sustentável de bilhões de cidadãos de cidades de todo o mundo. E quem pode demonstrar esse compromisso melhor do que nós, os prefeitos do mundo?”

Os ventos da mudança demográfica estão certamente por trás deles. Há dois anos, pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte e da Universidade da Geórgia, trabalhando com dados das Nações Unidas, estimaram -um tanto despreocupadamente- que o planeta se tornou oficialmente mais urbano do que rural pela primeira vez em 23 de maio de 2007.

A especificidade da data foi, é claro, em grande parte simbólica, mas a tese era clara: mais pessoas estão vivendo em cidades e áreas urbanas do que nunca. De fato, a ONU estimou que até 60% dos habitantes do planeta morarão em áreas urbanas até 2030, em comparação a 14% há um século.

O que isso significa no contexto do debate da mudança climática não é claro. Organizações como a ONU e a Iniciativa Clinton para o Clima, por exemplo, fizeram amplas alegações a respeito do papel das cidades na contribuição para um planeta mais quente.

“As cidades ocupam 2% da massa de terra do mundo, mas contribuem com mais de dois terços das emissões de gases do efeito estufa”, começa a explicação online da Iniciativa Clinton para seu programa C-40, que une grandes cidades por todo o globo em um compromisso com a redução dos gases do efeito estufa.

Outras medições apontam as cidades consumindo 70% ou mais dos recursos de energia do planeta e contribuindo com até 80% das emissões dos gases do efeito estufa.

Mas outros pesquisadores -incluindo David Satterthwaite, um membro sênior do Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Londres- contestam esses números, alegando que são, na melhor das hipóteses, exagerados, e, na realidade, desconhecidos.

Escrevendo na edição de março de 2009 da revista do Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas, “Urban World”, Satterthwaite e seu colega David Dodman, analisando os números mais recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estimaram que as cidades contribuem entre 30% e 41% das emissões globais de gases do efeito estufa.

E mesmo essa estimativa, argumentam os autores, é apenas um palpite: “Não existem dados que forneçam um número preciso”, eles escrevem, “o motivo provável para o IPCC não ter feito estimativas para o papel relativo das cidades, outros centros urbanos e áreas rurais”.

Satterthwaite e Dobson argumentam que exagerar a contribuição urbana ao aquecimento global desvia a atenção do “problema real”: os estilos de vida de alto consumo, intensivos em carbono, dos indivíduos nos países ricos -sejam moradores urbanos, suburbanos ou proprietários de cabanas na floresta.

Culpar as cidades “ignora o ponto de que cidades bem planejadas e governadas são centrais para desassociar alta qualidade de vida de altos níveis de consumo”, escrevem os autores.

“A maioria das cidades americanas apresenta três ou cinco vezes mais uso de gasolina por pessoa do que a maioria das cidades europeias”, notam os autores ao elaborar seu argumento, “e é difícil ver em Detroit uma qualidade de vida cinco vezes maior do que em Copenhague ou Amsterdã”.

Deixando de lado o antagonismo dessa afirmação, ela segue uma lógica familiar: como na política, toda ação envolvendo a mudança climática é, no final, local. “Não são questões para serem tratadas por um presidente assinando algo”, disse Mark Roseland, diretor do Centro para Desenvolvimento Sustentável da Comunidade da Universidade Simon Fraser, do Canadá, assim como autor do livro “Toward Sustainable Communities: Resources for Citizens and Their Governments”.

Em vez disso, Roseland disse, elas envolvem a “mobilização das sociedades para que as pessoas mudem a forma como lidam com o carbono em suas vidas”.

Isso significa tirar as pessoas de seus carros; investir em transporte de massa; fornecer incentivos para eficiência pessoal; encorajar a reciclagem e fornecer meios para fazê-lo; e transmitindo a noção de que as ações dos indivíduos importam.

Também se trata de reconhecer, segundo Roseland, que certas perspectivas para um tratado global em Copenhague significam que as comunidades locais precisarão liderar o caminho na mudança climática -um problema que, a esta altura tardia, permite pouco espaço para hesitação.

“Eu acho que há muitas pessoas que reconhecem que se não chegarmos a um acordo em Copenhague, nós não poderemos esperar”, ele disse, “e isso será tratado de baixo para cima, até que os altos líderes cheguem a um entendimento”.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Reportagem [Local Assaults on the Global Climate Problem] do International Herald Tribune, no UOL Notícias.

EcoDebate, 20/10/2009

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