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A humanidade correndo para o abismo

A humanidade correndo para o abismo
Imagem: Stockxpert

[EcoDebate] Um discurso ainda em moda é o de que vivemos numa época em que se exige velocidade em todos os campos, como se a pressa fosse uma alta qualidade e não o péssimo defeito demonstrado pela prática. O resultado nós vimos no século XX, um século no qual se destruiu mais do que em todos os outros anteriores somados.

Depois dessa correria destrutiva, já era tempo do ser humano ter a percepção de agora é preciso focar a agilidade e rapidez no ataque às conseqüências devastadoras deste desenvolvimento sobre a natureza. O mundo agora tem que correr para reverter o mecanismo destrutivo que acabou sendo impulsionado pela exploração impensada dos recursos do planeta.

O que se prevê para o meio ambiente global é um cenário de filme de ficção-científica, do tipo “disaster movie” norte-americano. E além do filme já ter iniciado, cada momento assustador é substituído por algo pior, com previsões catastróficas sendo desmentidas por novos números que aumentam sempre o nível de temor.

Logo que assumiu o cargo, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, fez uma visita à Antártica para ver com os próprios olhos os efeitos do aquecimento. A viagem foi em novembro de 2007 e ele pode então observar o derretimento das geleiras.

Na volta, o secretário-geral expressou sua preocupação com o que viu e falou da falta de vontade política, já que dinheiro para resolver o problema nunca faltou.

Não se passaram dois anos e a situação piorou bastante. Estudos atualizados mostram que a velocidade do aquecimento global é bem maior do que se divulgava até o momento em que Ban Ki-Moon botou os pés na superfície gelada da Antártica. Lembra novamente a imagem do “disaster-movie”, esta realidade trágica que parece filme. Hoje, estamos no pior cenário previsto pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Em entrevista no início deste mês, depois de visitar novamente a camada de gelo do oceano Ártico, desta vez na costa da Noruega, o secretário-geral falou sobre estes números novos. “Até o final deste século, o nível dos mares pode subir entre meio metro e dois metros,” disse ele, falando sobre um dos efeitos do aquecimento global.

Quando Ban Ki-Moon assumiu o cargo em 2007 a previsão era de uma elevação de 18 a 59 centímetros, o que pode ser visto como otimista se comparado com o que sabemos agora. Mas era apenas desconhecimento causado pela falta de dados científicos.

A oceanógrafa americana Katherine Richardson, presidente da Comissão Dinamarquesa de Política para as Mudanças Climáticas, explica que o desenvolvimento de novos satélites possibilitou medir com mais exatidão a extensão dos buracos no gelo. “Grandes áreas de gelo na Antártica estão derretendo e quebrando. A mesma coisa tem acontecido no Polo Norte. Em setembro de 2007, ele atingiu a menor área coberta de gelo já registrada. Agora, dizem que será aberta uma nova rota para chegar à China pelo Oceano Ártico. Nunca se viu isso antes”, ela disse em abril passado em entrevista à revista Época.

Em março, ela participou de uma conferência em Copenhague que juntou pesquisadores na elaboração de um documento de alerta sobre fatos que nem os cientistas esperavam testemunhar. Parte do que deve vir no futuro, segundo ela, em breve começará a ser notado pelas populações na água, na energia, nos alimentos, as necessidades do cotidiano que ficarão mais caras.

Por isso, agora sim, o mundo precisa agir com rapidez na aplicação de medidas práticas para ao menos encaminhar soluções nesta que é a questão mais grave enfrentada pelo ser humano em todos os tempos. O problema é a vontade política, sobre a qual falava Ban Ki-Moon há cerca de dois anos e que hoje também está em falta, mesmo já não havendo dúvida de que a situação é extremamente crítica.

O planeta tem cada vez menos tempo, mas segue no apressado e equivocado modelo de antes, como na imagem simples e certeira que Ban Ki-Moon usou para avisar sobre o equívoco: “Nosso pé está cravado no acelerador, e estamos rumando para o abismo”.

É desse jeito que o mundo está chegando ao encontro de cúpula em Copenhague, marcado para dezembro, quando será firmado o novo tratado climático que irá substituir o Protocolo de Kyoto, um compromisso desrespeitado por praticamente todos os países que o assinaram.

O mundo continua a toda. Mesmo com os claros avisos emitidos pelo planeta de que temos cada vez menos tempo para brecar e evitar a queda no abismo que a própria velocidade construiu.

* Colaboração do Movimento Água da Nossa Gente para o EcoDebate, 21/09/2009

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