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Tecnologias buscam vantagens do rótulo de energia renovável

EUA: Estados com cotas de adoção de fontes de energia renovável. Fonte NYT
EUA: Estados com cotas de adoção de fontes de energia renovável. Fonte NYT

O conceito de energia renovável parece bem definido: o Sol continua a brilhar, então energia solar é renovável. O vento continua a soprar, então turbinas eólicas produzem energia renovável. Mas alguns setores agora pressionam para incluir um número cada vez maior de tecnologias na categoria renovável – ou, ao menos, classificá-las como ambientalmente vantajosa. Elas incluem usinas nucleares, queima de refugo e até o resíduo de minas de carvão.

A atração do rótulo renovável é compreensível. Isenções de impostos federais para energia renovável foram reconfirmadas e quotas para a produção de energia renovável foram criadas em 28 estados, acompanhadas de amplas concessões, empréstimos e outras vantagens econômicas. Além disso, leis avançam em ambas as Casas do Congresso para o estabelecimento de quotas nacionais para fontes de energia renovável, como um projeto de lei sobre clima aprovado pelo Comitê de Energia e Comércio da Câmara na quinta-feira. The New York Times.

Com bilhões de dólares em jogo, os legisladores vêm sendo abordados por lobistas ávidos em participar desses benefícios.

“Eles têm feito fila fora dos gabinetes dos assessores, todos com suas próprias idéias sobre o que deveria ser incluído”, disse Bill Wicker, porta-voz da maioria democrata no comitê de energia do Senado, que estuda a quota nacional.

Em alguns estados, a definição de “renovável” ou “alternativa” já foi expandida. Na Pensilvânia, dejetos de carvão e metano de carvoarias recebem o mesmo tratamento de painéis solares e turbinas eólicas. Em Nevada, pneus velhos podem contar como combustível renovável, desde que sejam usadas microondas para quebrar sua estrutura química.

Cerca da metade dos 28 estados com medidas no setor inclui na categoria renovável a eletricidade gerada pela queima de lixo (o distrito de Columbia também tem uma quota para energia renovável). Na Flórida, o setor da energia nuclear pressiona para ser incluído, mas ainda sem sucesso.

Incentivos governamentais para a energia renovável pretendem dar um impulso econômico a tecnologias como solar e eólica, que não são ainda economicamente competitivas contra o carvão e o gás natural, que, juntos, fornecem mais de dois terços da eletricidade dos Estados Unidos.

Os benefícios que acompanham a designação incluem créditos de energia renovável, que prometem ser uma commodity valiosa se os padrões nacionais se tornarem lei; com os créditos, concessionárias com altos níveis de fontes renováveis poderiam vender créditos para aquelas com menos.

Se uma fonte de eletricidade já amplamente usada por alguma prestadora de serviços públicos – de origem hidráulica ou nuclear, por exemplo – for considerada renovável, isso daria espaço para essas concessionárias atenderem às exigências de energia renovável sem precisar fazer muitos esforços para acrescentar fontes eólicas ou solares à malha elétrica. Na semana passada, republicanos na Câmara tentaram sem sucesso incluir a energia nuclear no projeto de lei sobre clima aprovado no comitê.

Grupos ambientais como Union of Concerned Scientists, Environment America e Natural Resources Defense Council afirmam estarem frustrados com a crescente elasticidade da palavra “renovável” nas mãos dos legisladores.

“Normalmente, esse é um processo muito político, não conduzido de nenhum jeito, formato ou forma por qualquer definição estritamente científica ou ecológica de renovável”, disse Nathanael Greene, do Natural Resources Defense Council.

Mas os setores que já postularam o manto renovável afirmam que eles merecem.

“Uma banana é renovável – você pode cultivá-las para sempre”, disse Bob Eisenbud, vice-presidente para assuntos governamentais da Waste Management, cuja produção de energia a partir de refugo e aterros corresponde a cerca de 10% de sua receita anual de US$ 13,3 bilhões. “Uma banana que vai para o lixo e é incinerada”, acrescentou, é “um recurso renovável e produz energia renovável”.

Mas ambientalistas rebatem que um dos objetivos da energia renovável é reduzir a emissão de gases que captam calor e saem da queima da maioria das coisas, sejam combustíveis fósseis, sejam bananas. Onde não há fogo, não há emissões. A tecnologia de conversão de lixo em energia descrita por Eisenbud não estava no projeto original da legislação sobre clima que recebeu a aprovação do comitê da Câmara, mas estava na versão que saiu do comitê, graças à inserção do deputado democrata Baron P. Hill, de Indiana. Uma nova usina de conversão de lixo em energia, de US$ 227 milhões, já estava planejada no norte de Indiana, fora de seu distrito.

No Senado, um esforço para conseguir os benefícios da designação de renovável para tecnologias avançadas de queima de carvão fracassou.

O senador democrata Jeff Bingaman, do Novo México, presidente do comitê de energia do Senado, disse que se muitas novas tecnologias diferentes das fontes renováveis principais (vento e sol) fossem incluídas, “todo o propósito do padrão de eletricidade renovável está derrotado”.

O objetivo, ele diz, é “encorajar o desenvolvimento de algumas dessas tecnologias mais novas e baixar o preço”. Acrescentou: “Se você meter todas as outras” e chamá-las de renováveis, “então, seus números vão ficar muito diferentes do esperado”.

Leon Lowery, da equipe democrata no comitê, disse que tanto ambientalistas quanto a indústria alteraram o entendimento comum de fontes renováveis para fazerem as definições se enquadrarem nas metas políticas.

“Se você tentar especificar alguma definição, você vai acabar em lugares estranhos”, disse Lowery. “Qualquer um reconheceria que a energia hidrelétrica é renovável, mas nós queremos ceder créditos à represa Grand Coulee?”

Fazendo isso, acrescentou, você daria à energia hidrelétrica – que já se beneficia de ricos subsídios federais que a tornam a energia mais barata disponível – o mesmo status de tecnologias solares ou eólicas.

Entre os estados que já adotaram quotas de energia renovável, os padrões variam: Wisconsin exige que 10% de toda energia venha de fontes renováveis até 2015, enquanto Oregon e Minnesota requerem 25% até 2025; a Califórnia está aumentando sua meta para 33% até 2020, embora suas concessionárias já tenham indicado que a quota atual – 20% até 2010 – será difícil de cumprir.

Em alguns estados, quotas para energia renovável acompanham obrigações para novas tecnologias que não são necessariamente renováveis. Por exemplo, Ohio, que hoje obtém cerca de dois terços de sua eletricidade da queima de carvão, exige que 25% da eletricidade estadual venha de tecnologias renováveis ou avançadas até 2025, com metade vindo das fontes renováveis principais e parte do restante da queima de carvão quimicamente tratado.

Graham Mathews, lobista que representa a Covanta Energy, outra companhia de transformação de lixo em energia, disse que a negociação política em volta da legislação de energia renovável era semelhante a todas as outras em torno de medidas energéticas. “A política energética é segregada por região, e isso que dita o debate. O jogo político se torna incrivelmente complicado”, disse.

“Quando a gente se afasta para ter uma visão mais ampla”, acrescentou Mathews, “às vezes não faz muito sentido”.

Tradução: Amy Traduções

Matéria [With Billions at Stake, Trying to Expand the Meaning of ‘Renewable Energy’] do The New York Times, publicada no Terra Notícias.

** Enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate

[EcoDebate, 28/05/2009]

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