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Vazamento radioativo em Angra 2 ocorreu no dia 15 mas só foi divulgado 11 dias depois

Usinas de Angra 1 e 2. Foto de Norbert Suchanek
Usinas de Angra 1 e 2. Foto de Norbert Suchanek

Erro humano causou vazamento em Angra 2 no dia 15; Eletronuclear diz que ‘não houve impacto’

A Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás que constrói e opera as usinas nucleares do Brasil, informou nesta terça-feira (26) que, no último dia 15 de maio, houve um vazamento de radiação da Usina de Angra 2, provocado por um erro humano. Segundo a empresa, no entanto, “não provocou impacto para o meio ambiente, para os funcionários nem para a comunidade”

Segundo nota divulgada à imprensa nesta terça-feira, um funcionário que realizava um procedimento de rotina de descontaminação de uma peça teria deixado de fechar uma porta, permitindo a circulação de material radioativo. O sistema de alarme detectou o vazamento e foi acionado. Matéria do UOL Notícias (leiam, também, nota do EcoDebate).

Seis trabalhadores estavam próximos àquela sala e todos foram “minuciosamente monitorados” até que se verificasse que o nível de radiação a que se submeteram “foi muito abaixo dos limites estabelecidos nos procedimentos da empresa e nas normas reguladoras”. Todos os seis funcionários, segundo a Eletronuclear, estão trabalhando normalmente.

A Eletronuclear informa que o incidente foi comunicado à Comissão Nacional de Energia Nuclear e à Prefeitura de Angra dos Reis e foi classificado como evento não usual, “encerrado às 18h15 do mesmo dia”.

Quatro trabalhadores contaminados
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) informou que quatro dos seis trabalhadores que estavam próximos ao local foram contaminados em níveis abaixo de 0,1% dos limites estabelecidos em norma para os trabalhadores.

“A equipe de proteção radiológica iniciou os trabalhos de descontaminação e, em seguida, os trabalhadores passaram pelos portais da área controlada da usina e nenhum alarme foi acionado”, informou o órgão. A nota diz ainda que a liberação ao meio ambiente foi de cerca de 0,2% dos limites estabelecidos pela CNEN. Por isso, “o incidente não trouxe consequência à população e meio ambiente da região”.

A CNEN disse que o “evento não usual” ocorreu dentro do edifício auxiliar de Angra 2, e não no prédio do reator. “Este evento é classificado na escala internacional de eventos nucleares (INES) da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) como nível 1 (anomalia ou desvio operacional) numa escala que vai de zero até o nível 7”.

Procurado pelo UOL, o Ministério das Minas e Energias declarou que não irá se pronunciar sobre o ocorrido.

Para a Sape (Sociedade Angrense de Proteção Ecológica) o acidente é grave. A organização afirma que a Defesa Civil do município foi avisada somente no dia 18, três dias após a ocorrência.

Mais sobre a usina nuclear
Em maio do ano passado, a usina ficou parada 35 dias para manutenção programada. Em 2007, chegou a ficar desligada por uma falha na fonte de alimentação do sistema de controle da turbina geradora. Segundo a Eletronuclear, o problema não teve qualquer ligação com o material radioativo.

Fruto de um acordo nuclear Brasil-Alemanha, a construção e a operação de Angra 2 ocorreram conjuntamente à transferência de tecnologia para o país. A usina opera com um reator tipo PWR (reator à água pressurizada) e, sozinha, poderia atender ao consumo de uma região metropolitana do tamanho de Curitiba, com dois milhões de habitantes.

Em 2008, a usina nuclear registrou a maior geração de energia elétrica desde 2001. A geração elétrica de Angra 1 e 2 corresponde a cerca de 3% do total gerado no país. A energia dessas usinas é voltada basicamente para a região Sudeste do país, principal consumidor do Brasil.

O governo decidiu retomar as obras de Angra 3, a terceira usina do programa nuclear brasileiro, em junho de 2007, paradas há mais de 20 anos por falta de recursos públicos e dúvidas sobre os riscos. Parada, Angra 3 custava US$ 20 milhões por ano, pagos pelo governo para que se preservasse o canteiro de obras.

Nota do EcoDebate: quanto à ‘segurança’ da energia nuclear a nossa tag acidente nuclear fala por sí mesma. Em comum todos os operadores de centrais nucleares, nos primeiros momentos após o vazamento, insistem em declarar que “avaliações teriam também mostrado que não houve impacto para o meio ambiente, os trabalhadores ou aos moradores do entorno da usina.”

Isto até pode ser verdadeiro, mas como confiar quando um acidente só chega ao conhecimento público 11 dias após ocorrido.

Na Europa, ao contrário do Brasil, EUA, Rússia e China, prevalece o princípio da transparência de informações, o que leva as empresas e agências de segurança nuclear a manterem informadas a sociedade e a imprensa sobre todos os incidentes em instalações nucleares.

A realidade demonstra que as reiteradas afirmações da segurança na energia nuclear é apenas um mito. Incidentes/acidentes ocorrem com frequencia, embora as catástrofes sejam realmente raras. Raras, mas não improváveis.

Ameaça maior está na desinformação deliberada, na qual a sociedade não é correta e adequadamente informada de todos os incidentes/acidentes nucleares, com pseudo-argumento dos interesses de segurança nacional.

Henrique Cortez, henriquecortez{at}ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate

[EcoDebate, 27/05/2009]

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