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Estudo constata que o chá verde bloqueia benefícios de medicamento usado no tratamento de mieloma múltiplo, por Henrique Cortez

O chá verde é proveniente das folhas da Camellia sinensis. Foto do sítio Jardim de Flores
O chá verde é proveniente das folhas da Camellia sinensis. Foto do sítio Jardim de Flores.

[EcoDebate] Contrariamente às suposições populares sobre os benefícios do chá verde para a saúde, pesquisadores da Universidade de Southern California (USC) concluíram ele torna completamente ineficaz uma droga amplamente utilizada no tratamento de mieloma múltiplo.

O estudo constatou que um componente do extrato do chá verde (GTE), chamado EGCG, destrói qualquer atividade anticâncer da droga Velcade. O estudo foi publicado na edição online da revista Blood.

“Nossa conclusão de que GTE ou EGCG bloqueia a ação terapêutica do Velcade foi completamente inesperada”, diz o pesquisador Axel H. Schönthal, PhD, professor associado no Departamento de Microbiologia e Imunologia na Keck School of Medicine da USC. “Nossa hipótese era que GTE ou EGCG aumentaria a efeitos antitumorais do Velcade, e que uma combinação da GTE com Velcade (ou com Velcade EGCG) iria revelar-se superior no tratamento de câncer, em comparação ao tratamento com Velcade sozinho”.

Remédios herbais ou fitoterápicos, incluindo chá verde, tornaram-se populares no tratamento dos efeitos secundários da quimioterapia, usada no tratamento de pacientes com câncer. No entanto, esses suplementos não são regulamentados e, em sua maioria, os seus supostos benéficos e/ou efeitos negativos não foram qualificados através de pesquisa.

A pesquisa, que identificou o bloqueio excepcionalmente eficaz do efeito terapêutico do Velcade, foi realizada em ratos. O resultado bloqueador foi decorrente da interação química entre moléculas.

Os pesquisadores não realizaram testes clínicos em pacientes humanos, considerando que seria extremamente antiético, devido a um potencial desfecho desfavorável. No entanto, os pesquisadores esperam que o resultado do estudo também seja aplicável a pacientes com câncer.

“A conclusão mais imediata do nosso estudo é que os que pacientes submetidos a terapia com Velcade devem evitar chá verde e, em particular, todos os seus produtos concentrados que estão disponíveis a partir de lojas de alimentos naturais”, diz Schönthal. “É importante divulgar esta mensagem aos prestadores de cuidados de saúde que administram Velcade para os pacientes.”

Schönthal lembra que, para os pacientes tratados com Velcade, o uso do chá verde para reduzir a carga de efeitos colaterais severos pode parecer conveniente, mas isto pode ter um custo elevado.

“Essencialmente, além de não ser capaz de atacar as células tumorais, o Velcade seria incapaz de causar quaisquer efeitos colaterais”, diz ele. “Como resultado, o paciente se sentiria muito melhor e concluiria que o consumo de GTE ajudou a lidar com os efeitos secundários, enquanto que, na realidade, o Velcade simplesmente não foi ativo em primeiro lugar.”

Nota do EcoDebate: De acordo com a ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) “Mieloma Múltiplo é um câncer que se desenvolve na medula óssea, devido ao crescimento descontrolado de células plasmáticas. Embora seja mais comum em pacientes idosos, há cada vez mais jovens desenvolvendo a doença.”

O artigo “Green tea polyphenols block the anticancer effects of bortezomib and other boronic acid-based proteasome inhibitors”, de Encouse B. Golden, Philip Y. Lam, Adel Kardosh, Kevin J. Gaffney, Enrique Cadenas, Stan G. Louie, Nicos A. Petasis, Thomas C. Chen e Axel H. Schonthal, publicado na Blood First Edition Paper, prepublished online February 3, 2009; DOI 10.1182/blood-2008-07-171389, apenas está disponível para assinantes.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Green tea polyphenols block the anticancer effects of bortezomib and other boronic acid-based proteasome inhibitors

Encouse B. Golden, Philip Y. Lam, Adel Kardosh, Kevin J. Gaffney, Enrique Cadenas, Stan G. Louie, Nicos A. Petasis, Thomas C. Chen, and Axel H. Schonthal*

The anticancer potency of green tea and its individual components is being intensely investigated, and some cancer patients already self-medicate with this ‘miracle herb’ in hopes of augmenting the anticancer outcome of their chemotherapy. Bortezomib (Velcade®) is a proteasome inhibitor in clinical use for multiple myeloma. Here, we investigated whether the combination of these compounds would yield increased antitumor efficacy in multiple myeloma and glioblastoma cell lines in vitro and in vivo. Unexpectedly, we discovered that various green tea constituents, in particular (-)-epigallocatechin gallate (EGCG) and other polyphenols with 1,2-benzenediol moieties, effectively prevented tumor cell death induced by bortezomib in vitro and in vivo. This pronounced antagonistic function of EGCG was only evident with boronic acid-based proteasome inhibitors (bortezomib, MG-262, PS-IX), but not with several non-boronic acid proteasome inhibitors (MG-132, PS-I, nelfinavir). EGCG directly reacted with bortezomib and blocked its proteasome inhibitory function; as a consequence, bortezomib could not trigger endoplasmic reticulum stress or caspase-7 activation, and did not induce tumor cell death. Taken together, our results indicate that green tea polyphenols may have the potential to negate the therapeutic efficacy of bortezomib and suggest that consumption of green tea products may be contraindicated during cancer therapy with bortezomib.

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 06/02/2009, com informações de Meghan Lewit, University of Southern Califórnia]

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