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Danos causados por CO2 à atmosfera já são ‘irreversíveis’

o custo do progresso

Aquecimento durará mil anos, diz estudo – Novas simulações indicam uma redução permanente de 10% das chuvas no Nordeste no inverno até depois do ano 3000. Temperatura ficará alta mesmo se emissões caírem para zero, devido a perda lenta de calor pelo mar, diz líder de painel do clima

O aquecimento global é irreversível e, mesmo se todas as emissões de gases-estufa fossem cortadas a zero, as temperaturas continuariam elevadas por mil anos, causando secas graves em regiões como o Nordeste do Brasil. A conclusão é de um estudo publicado hoje por uma das principais cientistas do IPCC, o painel do clima das Nações Unidas. Matéria da Folha de S.Paulo, com Associated Press, 27/01/2009 e com informações adicionais do EciDebate.

Escrevendo no periódico “PNAS“, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a climatologista americana Susan Solomon e colegas afirmam que um aquecimento médio de 2C da superfície terrestre reduziria as chuvas no inverno em 10% no Nordeste brasileiro e no sul da África, e em 20% na bacia do Mediterrâneo e na Austrália. Esse efeito deve perdurar até depois do ano 3000.

“Para comparação, o “dust bowl” americano esteve associado com reduções médias de chuva de cerca de 10% em um período de 10 a 20 anos”, afirmam os cientistas. O “dust bowl” foi uma grande seca que arrasou a agricultura das Pradarias dos Estados Unidos na década de 1930, agravando a crise econômica da época e a Grande Depressão.

O novo estudo usa modelos climáticos para aprofundar previsões feitas pelo IPCC em seu relatório sobre o estado das mudanças climáticas lançado em 2007. Solomon foi uma das coordenadoras do relatório.

Segundo o novo resultado, a mudança climática é “irreversível” por mil anos depois que as emissões cessam porque, apesar de o gás carbônico persistir por apenas um século na atmosfera, o oceano continua reemitindo calor por séculos.

“As pessoas imaginavam que, se nós parássemos de emitir dióxido de carbono, o clima voltaria ao normal em 100 ou 200 anos. Isso não é verdade”, disse Solomon, em uma entrevista coletiva. “A mudança climática é lenta, mas irrefreável”, afirmou a pesquisadora da Noaa (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera).

As simulações de computador rodadas por Solomon e seus colegas também tentaram estimar o que aconteceria com o nível do mar no fim do século 21 e além. Aqui a divergência com os resultados cautelosos do IPCC é radical: para uma concentração de CO2 na atmosfera de 600 partes por milhão -hoje ela é de 385 partes por milhão-, os oceanos subiriam de 40 centímetros a 1 metro até 2100, continuando a subir depois disso, mesmo sem um grama a mais de gás carbônico na atmosfera após a estabilização. Isso só por expansão térmica, sem contar o efeito do degelo polar, ainda incerto.

Segundo os pesquisadores, a única conclusão possível é a óbvia: cortar mais e mais as emissões. “Taxas de desconto usadas em estimativas econômicas assumem que uma mitigação mais eficiente pode ocorrer em um mundo mais rico, mas ignoram a irreversibilidade mostrada aqui.”

Matéria da Folha de S.Paulo, com Associated Press, 27/01/2009.

Nota do EcoDebate: o artigo “Irreversible climate change due to carbon dioxide emissions“, publicado na revista PNAS, January 28, 2009, doi: 10.1073/pnas.0812721106, está disponível, no formato PDF, para acesso integral. Para acessar o artigo clique aqui.

Leiam, abaixo, no original em inglês, o release do NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration

New Study Shows Climate Change Largely Irreversible

January 26, 2009

A new scientific study led by the National Oceanic and Atmospheric Administration reaches a powerful conclusion about the climate change caused by future increases of carbon dioxide: to a large extent, there’s no going back.

The pioneering study, led by NOAA senior scientist Susan Solomon, shows how changes in surface temperature, rainfall, and sea level are largely irreversible for more than 1,000 years after carbon dioxide (CO2) emissions are completely stopped. The findings appear during the week of January 26 in the Proceedings of the National Academy of Sciences.

“Our study convinced us that current choices regarding carbon dioxide emissions will have legacies that will irreversibly change the planet,” said Solomon, who is based at NOAA’s Earth System Research Laboratory in Boulder, Colo.

“It has long been known that some of the carbon dioxide emitted by human activities stays in the atmosphere for thousands of years,” Solomon said. “But the new study advances the understanding of how this affects the climate system.”

The study examines the consequences of allowing CO2 to build up to several different peak levels beyond present-day concentrations of 385 parts per million and then completely halting the emissions after the peak. The authors found that the scientific evidence is strong enough to quantify some irreversible climate impacts, including rainfall changes in certain key regions, and global sea level rise.

If CO2 is allowed to peak at 450-600 parts per million, the results would include persistent decreases in dry-season rainfall that are comparable to the 1930s North American Dust Bowl in zones including southern Europe, northern Africa, southwestern North America, southern Africa and western Australia.

The study notes that decreases in rainfall that last not just for a few decades but over centuries are expected to have a range of impacts that differ by region. Such regional impacts include decreasing human water supplies, increased fire frequency, ecosystem change and expanded deserts. Dry-season wheat and maize agriculture in regions of rain-fed farming, such as Africa, would also be affected.

Climate impacts were less severe at lower peak levels. But at all levels added carbon dioxide and its climate effects linger because of the ocean.

“In the long run, both carbon dioxide loss and heat transfer depend on the same physics of deep-ocean mixing. The two work against each other to keep temperatures almost constant for more than a thousand years, and that makes carbon dioxide unique among the major climate gases,” said Solomon.

The scientists emphasize that increases in CO2 that occur in this century “lock in” sea level rise that would slowly follow in the next 1,000 years. Considering just the expansion of warming ocean waters—without melting glaciers and polar ice sheets—the authors find that the irreversible global average sea level rise by the year 3000 would be at least 1.3–3.2 feet (0.4–1.0 meter) if CO2 peaks at 600 parts per million, and double that amount if CO2 peaks at 1,000 parts per million.

“Additional contributions to sea level rise from the melting of glaciers and polar ice sheets are too uncertain to quantify in the same way,” said Solomon. “They could be even larger but we just don’t have the same level of knowledge about those terms. We presented the minimum sea level rise that we can expect from well-understood physics, and we were surprised that it was so large.”

Rising sea levels would cause “…irreversible commitments to future changes in the geography of the Earth, since many coastal and island features would ultimately become submerged,” the authors write.

Geoengineering to remove carbon dioxide from the atmosphere was not considered in the study. “Ideas about taking the carbon dioxide away after the world puts it in have been proposed, but right now those are very speculative,” said Solomon.

The authors relied on measurements as well as many different models to support the understanding of their results. They focused on drying of particular regions and on thermal expansion of the ocean because observations suggest that humans are contributing to changes that have already been measured.

Besides Solomon, the study’s authors are Gian-Kasper Plattner and Reto Knutti of ETH Zurich, Switzerland, and Pierre Friedlingstein of Institut Pierre Simon Laplace, Gif-Sur-Yvette, France.
NOAA understands and predicts changes in the Earth’s environment, from the depths of the ocean to the surface of the sun, and conserves and manages our coastal and marine resources.

[EcoDebate, 27/01/2009]

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