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Ginkgo biloba não tem qualquer efeito na redução de demência e doença de Alzheimer, por Henrique Cortez

JAMA, Journal of the American Medical Association logo
JAMA, Journal of the American Medical Association

[EcoDebate] O ginkgo biloba é um suplemento fitoterápico amplamente utilizado para reduzir os riscos do desenvolvimento de demência e de doença de Alzheimer. No entanto, um amplo estudo realizado por vários centros de pesquisa em cooperação, afirma que o suplemento não tem qualquer impacto sobre o desenvolvimento da doença de Alzheimer ou demência. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.

O estudo Ginkgo Avaliação da Memória (Ginkgo Evaluation of Memory – GEM), estudo foi o maior ensaio clínico de avaliação dos efeitos do ginkgo biloba sobre a ocorrência de demência. O estudo testou a eficácia de 120 miligramas (mg) de ginkgo, duas vezes por dia, versus placebo na redução da incidência de demência e da doença de Alzheimer.

Os resultados do estudo mostram que 240 mg diários de ginkgo não tem efeito sobre o aparecimento ou desenvolvimento de demência e da doença de. O estudo [Ginkgo biloba for Prevention of Dementia: A Randomized Controlled Trial] foi publicado na mais recente edição do JAMA, Journal of the American Medical Association (Vol. 300, No. 19, November 19, 2008 ).

Muitas pessoas hoje utilizam suplementos de ginkgo biloba na esperança de melhorar a memória, para ajudar a tratar ou prevenir a doença de Alzheimer e outros tipos de demência, para diminuir a claudicação intermitente (dor nas pernas causada pelo estreitamento artérias) e para tratar a disfunção sexual, esclerose múltipla, zumbido, e outra para outras condições de saúde. Na Europa e nos Estados Unidos, os suplementos de ginkgo biloba estão entre os medicamentos mais vendidos e na França e na Alemanha, embora classificado como suplemento fitoterápico, é regulamentado como medicamento prescrito.

O estudo foi realizado primeiramente para determinar se o ginkgo iria diminuir a incidência de todos os tipos de demência e, mais especificamente, reduzir a incidência da doença de Alzheimer. O estudo também teve o objetivo de avaliar seus efeitos do ginkgo sobre o declínio cognitivo global, incapacidade funcional, a incidência de doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais e mortalidade total.

Os resultados foram decepcionantes e surpreendentes, disseram Gregory Burke e Jeff Williamson, pesquisadores do Estudo Clínico GEM, na Coordenação Central do Wake Forest University Baptist Medical Center.

“Além de seu uso generalizado, baseado na crença de que ele ajuda a função de memória”, disse Williamson, “O ginkgo biloba teve provas circunstanciais bastante promissoras e os estudos realizados em animais de laboratório justificaram a necessidade de uma pesquisa em escala de testes em seres humanos.”

A demência é uma forma de doença cerebral que pode afetar gravemente uma pessoa, na sua capacidade de realizar atividades cotidianas. É causada por muitas condições, algumas das quais são reversíveis. Alzheimer é uma das formas mais comuns de demência nos idosos, afetando cerca de 4,5 milhões de americanos, de acordo com o National Institute on Aging. É uma doença incurável, com uma lenta evolução, que se inicia com ligeira perda de memória e terminando com graves danos cerebrais e morte.

O Estudo Clínico GEM foi realizado em quatro instituições: Wake Forest Baptist, University of Pittsburgh, Johns Hopkins University e University of California-Davis

Os pesquisadores avaliaram um total de 3069 participantes, com idade de 75 anos ou mais, que tinham cognição normal ou transtorno cognitivo leve. Os participantes foram randomizados para receber doses duas vezes ao dia de 120 mg de extrato de ginkgo ou placebo. A dose de ginkgo foi selecionada com base em resultados anteriores, em estudos clínicos que verificaram que 120 mg duas vezes por dia, ser a dose mais eficaz. O gingko utilizado no estudo foi fornecido pela Schwabe Pharmaceuticals e é vendido nos Estados Unidos como Ginkgold MaxTM, sob o rótulo Nature’s Way.

Os pacientes foram acompanhados por uma média de seis anos, com um máximo de pouco mais de sete anos. Durante o estudo, 523 participantes foram diagnosticados com demência, 246 no grupo placebo e 277 no grupo ginkgo, levando os pesquisadores a declarar que ginkgo não mostrou qualquer efeito global de redução dos tipos de demência ou de Alzheimer.

“É muito improvável que o ginkgo biloba seja eficaz em qualquer dose durante um período de cinco anos e em ninguém com mais de 75 anos”, disse Williamson. “Também é ineficiente nas pessoas com sinais precoces de perda de memória. O que não é conhecido ainda é saber o efeito de ginkgo biloba em quem tome o medicamento durante muitos e muitos anos, digo 15 anos, mesmo antes de existir um sinal de perda de memória “.

Para os milhões de pessoas que consomem ginkgo confiando na promessa de proteção contra a doença de Alzheimer e a demência, Williamson sugere que eles gastem seu dinheiro em outra parte, permanecendo, todavia, mental e fisicamente ativas.

E, embora o ginkgo não conseguiu comprovar os efeitos protetores como esperado, Williamson explicou que o ensaio foi, em muitos aspectos, valioso para a comunidade científica. O estudo demonstra a experiência em si da exeqüibilidade da realização de ensaios em grande escala para a prevenção de demência em adultos mais velhos, dizem os pesquisadores.

“Um dos mais importantes achados do presente estudo é que podemos recrutar e seguir um número suficiente de voluntários para este fim, mesmo no crescimento rápido da população de pessoas acima de 75 anos”, disse ele. “Trata-se de importância crítica para a utilização mais efetiva dos recursos escassos do Medicare no futuro.

“Em segundo lugar, nós já estamos aprendendo um monte de novas informações, a partir dos voluntários da GEMS, sobre como a demência se desenvolve e como nem todas as alterações de memória são um sinal de demência iminente”, Williamson acrescentou.

Contatos:
Jessica Guenzel
jguenzel@wfubmc.edu
336-716-3487
Wake Forest University Baptist Medical Center

Gloria Kreps
KrepsGA@upmc.edu
412-647-3555
University of Pittsburgh Schools of the Health Sciences

O artigo “Ginkgo biloba for Prevention of Dementia: A Randomized Controlled Trial” , publicado no JAMA, Journal of the American Medical Association (Vol. 300, No. 19, November 19, 2008 ) está disponível para livre acesso. Para acessar o citado artigo clique aqui.

Abaixo transcrevemos o abstract do artigo:

Ginkgo biloba for Prevention of Dementia
A Randomized Controlled Trial

Steven T. DeKosky, MD; Jeff D. Williamson, MD, MHS; Annette L. Fitzpatrick, PhD; Richard A. Kronmal, PhD; Diane G. Ives, MPH; Judith A. Saxton, MD; Oscar L. Lopez, MD; Gregory Burke, MD; Michelle C. Carlson, PhD; Linda P. Fried, MD, MPH; Lewis H. Kuller, MD, DrPH; John A. Robbins, MD, MHS; Russell P. Tracy, PhD; Nancy F. Woolard; Leslie Dunn, MPH; Beth E. Snitz, PhD; Richard L. Nahin, PhD, MPH; Curt D. Furberg, MD, PhD; for the Ginkgo Evaluation of Memory (GEM) Study Investigators

JAMA. 2008;300(19):2253-2262.

Context Ginkgo biloba is widely used for its potential effects on memory and cognition. To date, adequately powered clinical trials testing the effect of G biloba on dementia incidence are lacking.

Objective To determine effectiveness of G biloba vs placebo in reducing the incidence of all-cause dementia and Alzheimer disease (AD) in elderly individuals with normal cognition and those with mild cognitive impairment (MCI).

Design, Setting, and Participants Randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial conducted in 5 academic medical centers in the United States between 2000 and 2008 with a median follow-up of 6.1 years. Three thousand sixty-nine community volunteers aged 75 years or older with normal cognition (n = 2587) or MCI (n = 482) at study entry were assessed every 6 months for incident dementia.

Intervention Twice-daily dose of 120-mg extract of G biloba (n = 1545) or placebo (n = 1524).

Main Outcome Measures Incident dementia and AD determined by expert panel consensus.

Results Five hundred twenty-three individuals developed dementia (246 receiving placebo and 277 receiving G biloba) with 92% of the dementia cases classified as possible or probable AD, or AD with evidence of vascular disease of the brain. Rates of dropout and loss to follow-up were low (6.3%), and the adverse effect profiles were similar for both groups. The overall dementia rate was 3.3 per 100 person-years in participants assigned to G biloba and 2.9 per 100 person-years in the placebo group. The hazard ratio (HR) for G biloba compared with placebo for all-cause dementia was 1.12 (95% confidence interval [CI], 0.94-1.33; P = .21) and for AD, 1.16 (95% CI, 0.97-1.39; P = .11). G biloba also had no effect on the rate of progression to dementia in participants with MCI (HR, 1.13; 95% CI, 0.85-1.50; P = .39).

Conclusions In this study, G biloba at 120 mg twice a day was not effective in reducing either the overall incidence rate of dementia or AD incidence in elderly individuals with normal cognition or those with MCI.

Trial Registration clinicaltrials.gov Identifier: NCT00010803

Author Affiliations: University of Pittsburgh, Pittsburgh, Pennsylvania (Drs DeKosky, Saxton, Lopez, Kuller, and Snitz and Mss Ives and Dunn); Wake Forest University, Winston-Salem, North Carolina (Drs Williamson, Burke, and Furberg and Ms Woolard); University of Washington, Seattle (Drs Fitzpatrick and Kronmal); Johns Hopkins University, Baltimore, Maryland (Drs Carlson and Fried); University of California–Davis, Sacramento (Dr Robbins); University of Vermont, Burlington (Dr Tracy); National Center for Complementary and Alternative Medicine, Bethesda, Maryland (Dr Nahin); and University of Virginia, Charlottesville (Dr DeKosky).

[EcoDebate, 27/12/2008]

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