EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

UHE Mauá transformará em um imenso lago morto o primeiro rio em diversidade de vida do Paraná, artigo de Laila Menechino

[EcoDebate] O Consórcio Cruzeiro do Sul, formado pela Companhia Elétrica do Paraná – COPEL e Eletrosul, no último dia 21 de julho, expediu ordem de serviço para a construção da Usina hidrelétrica de Mauá, no rio Tibagi, entre as cidades de Ortigueira e Telêmaco Borba, na região central do estado do Paraná, a 110 km de Londrina.

A empreiteira J Malucelli pretende receber R$ 1 bilhão pela obra, prevista no Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, do governo federal. Se for construída, a barragem transformará em um imenso lago morto o primeiro rio em diversidade de vida do estado.

O licenciamento ambiental da Usina Mauá está emperrado há anos, por diversas ações propostas por ambientalistas, ribeirinhos, indígenas, cientistas e pesquisadores das principais universidades do estado, que estudam o Tibagi e sua importância ecológica há mais de 20 anos.

Estes estudos comprovam a inviabilidade econômico-técnico-financeira da obra e apontam fraudes no processo de licenciamento ambiental da barragem, embasando os dezesseis processos judiciais que buscam impedir tamanha destruição.

Até o dia 17 de julho deste ano, a construção da barragem era impedida por uma liminar do Supremo Tribunal de Justiça, que condicionava a instalação da Usina (cuja energia já está vendida e o Consórcio pretende comercializar até 2011), à realização de amplo estudo de toda a bacia hidrográfica do Rio Tibagi, imenso rio que corta o estado e é manancial de abastecimento de mais da metade da população de Londrina.

Porém, por despacho do presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) ministro Humberto Gomes de Barros, a liminar que impedia o alagamento de uma área de mais de 84 km2 de mata nativa e próxima a três importantes terras indígenas da cultura kaingang, foi cassada. Coincidentemente, apenas um dia depois de dar a decisão, Humberto Gomes Dias deixou de ser ministro do STJ, porque resolveu se aposentar.

O caso da Usina Mauá tem colecionado uma sucessão de liminares concedididas na surdina por juízes que decidem e depois voltam atrás e que passam por cima de leis, estudos e vidas. Tem colecionado também personagens públicos como o governador Roberto Requião e o atual secretário estadual do Meio Ambiente do Paraná Lindisley Raska Rodrigues envolvidos em denúncias e escândalos.

Raska Rodrigues, inclusive, por três anos ficou por efeito de uma decisão judicial impedido de falar sobre o caso. Lindisley sofreu processo por improbidade administrativa, já que na época de concessão da licença prévia (2005) era diretor geral do Instituto Ambiental do Paraná – órgão responsável por uma licença baseada em fraude no Estudo de Impacto Ambiental.

Hoje, ambientalistas, ribeirinhos, indígenas, pesquisadores, artistas e a população em geral se articulam para impedir a instalação do canteiro de obras e evitar a morte do rio Tibagi. No próximo dia 09 de agosto, sábado, ribeirinhos e indígenas estarão na cidade para protestar junto com a população de Londrina. Vamos manifestar o apoio aos ribeirinhos e índios e … Salve o Tibagi! Contra a Usina Mauá, a favor da vida!

USINA NO TIBAGI AFETA ÁGUA DE LONDRINA

A Usina Mauá, conforme o projeto da COPEL e do governo do Estado, é a primeira de outras seis usinas hidrelétricas ao longo do rio Tibagi. É a primeira justamente porque seria o grande reservatório que abasteceria o funcionamento das demais usinas. Após Mauá, o Tibagi, único rio do Paraná que ainda não possui grande usina hidrelétrica, seria tomado por barragens, destruindo toda a biodiversidade e a qualidade da água consumida em Londrina!

Hoje, sem a represa, a água é depurada ao longo das típicas corredeiras do Tibagi (palavra indígena que significa água boa ou água corrente). Barrando o rio, uma extensa área de floresta, agricultura e pecuária ficaria em baixo da água parada do reservatório. Todo o material orgânico se decompondo faria com que algas tóxicas se proliferassem pela água. Assim, o rio hoje repleto de vida se transformaria em um imenso lago morto com substâncias prejudiciais à saúde humana.

Esse fenômeno se chama eutrofização e é o que ocorreria no caso da construção da represa de Mauá.

Com isso, a água hoje captada e tratada pela Sanepar para o abastecimento de mais da metade da população de Londrina, além de outras cidades do norte do Paraná, ficaria contaminada. O tratamento da água de Londrina ficaria mais caro e mais difícil. Não há tecnologia disponível para esse tratamento e uma grande quantidade de produtos químicos seria adicionada à água na tentativa de tratá-la. A qualidade para o consumo humano, então, estaria seriamente prejudicada e a conta seria paga por todos nós, que consumimos a água do Tibagi em Londrina!

Estudos da própria Sanepar comprovam que a principal fonte de água de Londrina é o rio Tibagi. Se não temos outra fonte suficiente e se o represamento do rio Tibagi prejudica diretamente a qualidade da nossa água, porque é então que o governo do estado e a COPEL insistem em construir a Usina Mauá? Quem vai ganhar com tamanha destruição?

Tais questões ficam sem resposta. A única coisa certa é que, como diz uma ribeirinha atingida pela barragem, “energia hoje em dia se tira até de fezes, mas homem nenhum tem a forma de fazer a água!”. Salve o rio Tibagi! Contra a Usina Mauá, a favor da Vida!

Laila Menechino
Grupo de Comunicação Ambiental (GCA)
Ong MAE – Meio Ambiente Equilibrado

Artigo enviado pelo Fórum Carajás

[EcoDebate, 16/08/2008]

One thought on “UHE Mauá transformará em um imenso lago morto o primeiro rio em diversidade de vida do Paraná, artigo de Laila Menechino

  • Laudos baseados em teste realizados em amostras de água proveniente de minas de carvão desativadas ao longo do Tibagi, confirmam contaminação com “chumbo”, o que acarretaria uma grande trangédia ambiental e humana o represamento das aguás do Tibagi. O grande manancial de abastecimento para consumo humano de mais de 20 municípios poderá tornar-se uma enorme fonte de envenenamento de milhoes de habitantes, alem de extinguir com a grande bio diversidade da Mata Atlantica, animais, peixes raros (como um Dourado de 15 kg pescado nesta semana por um Ribeirinho, que como milhares de outros moradores e indígenas da regiao sobrevive com os recursos naturais do grande Tibagi.

Fechado para comentários.