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Artigo

O agrocombustível em pauta, artigo de Mario Eugenio Saturno

[diárioweb] No debate “Agroenergia no Brasil”, realizado em Belo Horizonte, organizado pela Via Campesina e pelo jornal Brasil de Fato, pesquisadores abordaram riscos e oportunidades da produção de álcool combustível que merecem nossa atenção.

O agrônomo Marcello Guimarães defendeu que o agrocombustível é uma oportunidade histórica para o Brasil. Ele fez uma relação entre a industrialização dos países do Norte e a presença de reservas de carvão mineral, que permitiu essas nações desenvolverem uma grande indústria mecânica, naval e de armamento que teria permitido a domínio sobre os territórios ricos em petróleo. Guimarães considerou que o crescimento do álcool não implica na expansão da monocultura de cana-de-açúcar. Ele propõe o desenvolvimento de microdestilarias, integrada à produção de leite e de carne, sendo que o combustível sairia a um custo menor do que o das grandes destilarias. Para isso, a agricultura familiar teria papel fundamental.
Isso abriria um caminho para a geração de empregos no campo. Para se fazer uma refinaria para 110 mil barris de petróleo por dia, o investimento é de 2 bilhões de dólares, criando-se 7 mil empregos. Com os mesmo investimento, cria-se 100 mil microdestilarias para produzir 100 mil barris de álcool, criando-se um milhão de empregos.

A produção em microusinas evita a exploração de mão-de-obra, não agride o meio ambiente e não gera desperdício, pois o bagaço da cana moído é usado como ração para o gado.

Manoel Costa, secretário do Estado de Minas Gerais para Assuntos da Reforma Agrária, apoiou a idéia. Para ele, a Petrobras não tem se preocupado com a produção de etanol, apenas com a produção de biodiesel. Costa afirmou que o poder público pode coibir a expansão das monoculturas. O Estado pode criar uma legislação que limite a monocultura no município, por exemplo, a 30% no máximo. Em Minas Gerais, já vigora uma legislação de estímulo às microdestilarias. O engenheiro agrônomo Horácio Martins lembrou que o que está por trás do agrocombustível é uma ofensiva neocolonial pois a demanda atende às necessidades do grande capital que quer controlar o álcool assim como ocorreu com o petróleo e o gás. Hoje, o Brasil produz 20,1 bilhões de litros de álcool combustível, muito mais do que o os 16 bilhões de litros necessários para mercado interno. Um estudo do pesquisador Pedro Ramos, da Unicamp, mostra que um cortador de cana recebia R$ 9,09 por 4 toneladas nos anos 80, hoje, para ganhar R$ 6,88 é necessário cortar 15 toneladas. Recentemente, os usineiros ganharam outro aliado para expandir os lucros: as espécies transgênicas, mais leves do que as tradicionais. De acordo com pesquisa do Ministério do Trabalho, antes, 100 metros quadrados de cana somavam 10 toneladas, as novas espécies pesam um terço disso no mesmo espaço.

MARIO EUGENIO SATURNO
Tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva (mariosaturno@uol.com.br)

(www.ecodebate.com.br) artigo publicado pelo diarioweb.com.br, S.J. do Rio Preto, SP

Enviado e comentado pelo leitor e colaborador Jorge Gerônimo Hipólito

Prezado Henrique,

O constante da matéria “agrocombustível em pauta”, na minha opinião deveria ser fertilizada e amplamente divulgada. A minha concordância ocorre em face de uma “Carta Aberta” que, certa vez, encaminhei ao governador de São Paulo (Geraldo Alckimim), onde sugeria o macrozoneamento agrícola. Notadamente, o objeto principal seria alcançar o equilíbrio do desenvolvimento agrícola, onde pequenos, médios e grande produtores, pudessem desenvolver suas atividades com respeito aos limites estabelecidos. Desta feita, seriam evitados os prejuízos ambientais e, ao mesmo tempo todos seria beneficiados.