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Cerrado deixará de existir, se devastação não diminuir

Flávia Lima

[Gazeta Mercantil] O Cerrado deixará de existir daqui a 40 anos se o nível de devastação não diminuir. Longe de ser uma ameaça sem fundamento, a estimativa foi lembrada ontem pelo presidente do Instituto Brasília Ambiental (IBA) e subsecretário de Meio Ambiente do DF, Gustavo Souto Maior. O Dia do Cerrado foi comemorado no Jardim Botânico, com o objetivo principal de chamar a atenção do governo e da sociedade para a situação de risco por que passa o segundo maior bioma do Brasil, atrás apenas da Floresta Amazônica.

O Cerrado já perdeu dois terços da sua cobertura original em apenas 40 anos. No Distrito Federal, 73,8% da vegetação nativa foi perdida. Depois de 12 anos em que o assunto ficou em segundo plano, a expectativa é que a Câmara dos Deputados vote até o fim do ano a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 115/95. A emenda parlamentar transforma o Cerrado e a Caatinga em patrimônio nacional, mesmo status concedido pela Constituição de 1988 à Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal Mato-grossense e Zona Costeira.

“A aprovação da proposta de emenda é um ato simbólico, uma forma de dar destaque ao Cerrado, cujo nível de devastação é maior que o da Floresta Amazônica” afirmou Souto Maior. “Mas apenas o gesto simbólico não basta. É preciso uma política pública mais efetiva”, completou.

Um dos 25 lugares mais ameaçados do mundo do ponto de vista ambiental, o cerrado se encontra hoje desprotegido. Apenas 3% do território do cerrado é delimitado como zona de proteção ambiental. O ideal, segundo Souto Maior, é que no mínimo 10% do bioma fique em áreas de proteção.

No DF fazem parte de áreas de proteção ambiental o Parque Nacional de Brasília, Jardim Botânico, Reserva Ecológica do IBGE, Fazenda Água Limpa da UnB e Estação Ecológica Águas Emendadas.

“É muito pouco. O restante das áreas está ocupado com plantações, pastos ou está queimado. Precisamos criar mais áreas de proteção do meio ambiente”, lamentou Souto Maior.

Uma das ações que devem ser realizadas para dar atenção ao cerrado, para o presidente do IBA, é levar em consideração as pesquisas que já existem sobre o bioma nas universidades. “Temos de aproveitar as pesquisas feitas no mundo acadêmico. Com a entrada do biodiesel no mercado de Brasília, é preciso um cuidado ainda maior com o meio ambiente”.

Mas para o diretor do Jardim Botânico, o arquiteto Jeanito Gentilini, a criação de áreas de proteção ambiental é uma medida radical para uma situação radical. A solução para a devastação ambiental precisa ir além de núcleos isolados de proteção.

“Está tudo muito quente, sentimos na pele essa devastação toda. Preservar é fundamental”, afirmou Gentilini.

Para o coordenador de prevenção e controle de riscos ambientais do IBA, João Santana, um dos maiores inimigos do cerrado é a atual cultura do fogo. “Até a ponta de cigarro que as pessoas jogam na beira da estrada, em tempos de seca, é perigosa”, comenta Santana.

kicker: O bioma já perdeu dois terços da sua cobertura original em 40 anos; no Distrito Federal, 73,8% da vegetação nativa foi eliminada

(www.ecodebate.com.br) matéria da Gazeta Mercantil – 12/09/2007