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mudanças climáticas: Amazônia poderá perder 20% da água

Volume de água na região amazônica deve cair um quinto até 2050; Nordeste perderá um terço da água de chuva, prevê relatório.

As alterações climáticas decorrentes do aquecimento global poderão reduzir em pelo menos um quinto a disponibilidade de água na Amazônia e provocar uma queda de 30% ou mais no escoamento da água de chuvas no Nordeste brasileiro até 2050. O alerta é do RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) 2006, lançado pelo PNUD. O estudo adverte que as mudanças hidrológicas devem ter impacto na agricultura dos Estados nordestinos e agravar a situação de vulnerabilidade em que vivem as famílias pobres da região. Por Alain Infante, da PrimaPagina, PNUD Brasil.

“As simulações do impacto das alterações climáticas na produção agrícola no Brasil apontam para uma diminuição de 12% a 55% nas colheitas das regiões áridas dos Estados do Ceará e de Piauí, que apresentam concentrações extremamente elevadas de pobreza e de desnutrição nas zonas rurais”, afirma o estudo. Além do semi-árido nordestino, o litoral da região e toda a Bacia Amazônica sofrerão o impacto da redução da disponibilidade de água, segundo um mapa com projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU apresentado no relatório.

O impacto no Brasil é parte de um problema global. O RDH prevê que as quedas de produção decorrentes da escassez de água aumentarão a fome. “Qualquer projeção que façamos será inevitavelmente arriscada (…). Mesmo assim, os sinais de aviso são claramente visíveis nos resultados das projeções. Essas projeções sugerem que as alterações climáticas poderão aumentar entre 15% e 26% a subnutrição mundial [até 2080]”, afirma o relatório.

Isso significa que entre 75 milhões e 125 milhões de pessoas entrariam para a população de subnutridos até 2080. Mas, se nada for feito, “a ameaça da pobreza sistêmica vai afetar um número de pessoas muito mais elevado. As quebras na produção agrícola originarão efeitos múltiplos que terão repercussão em economias inteiras, fazendo alastrar a pobreza das zonas rurais para as áreas urbanas”, prevê o documento.

O relatório ainda aponta que as mudanças de clima poderão ter impacto no comércio internacional: a produção de cereais deve expandir nos países desenvolvidos e diminuir nos países em desenvolvimento, o que acarretaria uma maior dependência de importação de alimentos e traria implicações para a segurança alimentar. “Para uma larga percentagem da população mundial residente nos países em desenvolvimento, as previsões relativas às alterações climáticas apontam para uma menor garantia de meios de subsistência, uma maior vulnerabilidade à fome e à pobreza, um agravamento das desigualdades sociais e uma maior degradação ambiental”, diz o documento.

O RDH salienta que as mudanças no clima devem causar danos muito mais graves que os recentes desastres naturais na Ásia. “As alterações climáticas — ao contrário do tsunami no Oceano Índico ou do terremoto na Caxemira — ameaçam provocar não propriamente uma catástrofe pontual, mas antes um desastre que vai desenrolar-se lentamente no tempo”.

O estudo frisa que já não é possível evitar os danos futuros. “As alterações climáticas perigosas são agora inevitáveis. […] Uma prioridade imediata consiste em providenciar estratégias com vista a minimizar os efeitos das alterações climáticas com estratégias que apóiem a adaptação às inevitáveis mudanças do clima”, destaca.

Protocolo de Quioto

O RDH 2006 sugere a inclusão do Brasil numa eventual próxima etapa do Protocolo de Quioto. “Os países ricos têm de se empenhar mais no sentido de ‘descarbonizar’ suas economias. Ao mesmo tempo, o crescente impacto ambiental dos países em desenvolvimento não pode ser ignorado. Daí a necessidade de o eventual sucessor do Protocolo de Quioto abranger não apenas todo o mundo desenvolvido, mas também os países em desenvolvimento mais importantes, como o Brasil, a China e a Índia”, afirma o texto.

PNUD Brasil