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Áreas de Conservação para os Cerrados maranhenses, por Mayron Régis

Cargas de água. A chuva dura horas, as árvores e as suas folhas arrependidas quase se ajoelham pela força do vento e as águas milimetricamente amarrotam o chão por onde se derramam. Para onde mandaram aquele céu carrancudo, quem livrou as árvores do vento e aquela água toda foi para quê buraco?

Há milênios que os Cerrados brasileiros acumulam águas, sob as raízes de suas árvores e sob as suas terras, que são utilizadas para o suprimento das atividades humanas de boa parte do Brasil. As chapadas são os lugares que sorvem a água da chuva e alimentam as nascentes das principais bacias hidrográficas. Por muito tempo, as chapadas foram como esquecidas pela agricultura familiar que priorizaram os baixões para seus plantios. Até que o agronegócio da soja, do eucalipto e da cana-de-açúcar partiu para cima, literalmente, dessas áreas quase inacessíveis.

O crescimento do agronegócio em termos econômicos, nas últimas décadas, se deve a sucessivas bocanhadas de áreas dos Cerrados e da Amazônia e a inúmeros problemas sócio-ambientais como perda de biodiversidade, diminuição das chuvas e expulsão de trabalhadores rurais de suas terras. Pobre Cerrado. Pobre Amazônia.

Em recente notícia, o ministro da agricultura Roberto Rodrigues declarou que o Brasil precisará de mais dois milhões de hectares de áreas plantadas com cana-de-açúcar para atender a demanda por etanol daqui de dentro e de lá de fora. O olhar do ministro Roberto Rodrigues cobiça áreas dos Cerrados, do Maranhão e Piauí, pouco estudadas do ponto de vista ambiental e prioritárias para conservação da biodiversidade.

No Maranhão, o combustível que propulsiona a abertura de novas áreas para a produção de monocultivos está intimamente relacionado com os valores muito baixos cobrados pela terra, a grilagem de terras públicas e o porto do Itaqui, por onde eles são escoados. Abocanham-se áreas à proporção que antigas áreas são deixadas de mão por causa de seu empobrecimento.

O custo-benefício desse entrar e sair rapidamente dos Cerrados não está sendo previsto, principalmente, com efeito à perda da biodiversidade. Nos gerais de Balsas, região iniciadora da ocupação dos Cerrados pelo agronegócio, só existe uma área de conservação que é APA Rio Balsas. Outra área de conservação é o Parque Estadual do Mirador, do centro para o sudeste do Maranhão. Mesmo com toda a falta de presença do governo do estado na vigilância dessas áreas, as suas existências são alentos para o sul do Maranhão.

Duas boas notícias, uma de final e outra de começo de ano, foram a criação do Parque Nacional Chapada das Mesas, uma área de 160 mil hectares dentro dos municípios de Carolina, Riachão e Estreito e a vistoria feita pelo Ibama da área conhecida como Chapada Limpa, no município de Chapadinha, Baixo Parnaíba maranhense, uma área de 630 hectares, para que seja criada uma reserva extrativista.

O Baixo Parnaíba maranhense, no ano de 2005, foi palco de manifestações contra e denúncias de desmatamento da mata nativa e grilagem de terras para o plantio de monocultivos. Desde 1980, com o incentivo dos governos federal e estadual, o Baixo Parnaíba vem sendo assolado pelo eucalipto, pela cana-de-açúcar, pelo bambu e pela soja.

Mayron Régis, jornalista, www.portal21.net

Portal EcoDebate, www.ecodebate.com.br, 27/01/2006

One thought on “Áreas de Conservação para os Cerrados maranhenses, por Mayron Régis

  • eu achei otimo essa pagina
    uma beleza esse texto tao natural
    amei

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